Thursday, March 03, 2011
Açaí: ouro negro da floresta
Um Filme de Delvair Montagner
O documentário, de Delvair Montagner, rodado na região de Igarapé-Miri e em Belém do Pará, retrata de maneira linear e tradicional, porém bastante plástica e didática, a cadeia de produção e comercialização do açaí, a partir da Cooperativa Agrícola dos Empreendedores de Açaí de Igarapé-Miri – CAEPIM. Partindo, como não poderia deixar de ser, dos caminhos naturais da floresta, os rios, chega-se aos moradores coletores do fruto do açaizeiro. Entrevistando os mais idosos da região tem-se a informação de que, as gerações anteriores, provavelmente migrantes de outras regiões, em sua maioria de nordestinos, desconheciam a árvore e o seu fruto. Sequer era comido, pois não se sabia se era venenoso ou não. O filme mostra que foi somente a partir da década de 70, com o fim de mais um ciclo na região, após o cacau, a madeira, a cerâmica, a pimenta do reino e a cana, que se buscou sobrevivência com a exploração do açaí. Hoje, porém, consoante declarações dos entrevistados no filme, a realidade é outra para os cooperados, que obtém a maior parte de sua renda do açaí.
A cadeia dar-se início com a coleta feita pelos pecunheiros, que com grande habilidade sobem de árvore em árvore para cortar os cachos de frutos maduros. A outra parte da renda familiar, conforme demonstrado de maneira singular por meio de imagens e entrevistas, é obtida do palmito, da roça, da produção de cestos, de barcos, da pesca e captura de camarão e da produção de farinha, principalmente. O açaí também é parte importante da alimentação nativa, em especial, comida com o arroz, numa espécie de mingau. Esse produto, atestam os médicos, é bastante energético e é um alimento denominado funcional, posto possuir substâncias bioativas e antioxidantes, representadas pelos compostos fenóis, os quais ajudam na prevenção e redução de doenças degenerativas e câncer.
As condições de vida desses produtores, pelos relatos, tiveram enormes melhorias em termos de consumos de aparelhos eletrodomésticos, a exemplo de televisores, aparelhos de som, DVD, etc, assim como do acesso à água potável. Tanto é que se deu uma alteração nos costumes locais, onde os mais velhos não mais contavam estórias para os mais novos, mas sim se distraiam com esses novos equipamentos. Atesta comentário de uma jovem de cerca de 10 anos, acrescentando ainda que sua intenção é prosseguir nos estudos em uma cidade maior e não mais viver, como seus pais, da coleta e produção de açaí, tarefa nada fácil, pois para se obter uma caixa ou cesto de açaí, faz-se necessária a subida em mais de uma centena de árvores.
Outro desafio apontado pelo filme está relacionado à questão do seu manejo. Nas décadas passadas, a orientação recebida pelos produtores dada pela assistência técnica local, dava conta de que era importante praticamente extirpar as outras árvores da região, preservando apenas as árvores de açaí. Isso levou ao aumento das pragas (de formigas, como citado) na região, e pode está vinculado à elevação da incidência de barbeiros. O manejo sustentável, praticado atualmente, mostrado no filme, recomenda que as plantas com idade de 7 anos, que começam a reduzir sua produção, devem ser derrubadas para dar espaço as árvores mais novas. Dessas árvores mais velhas extrai-se o palmito para venda, que é vendido a um preço irrisório, da ordem de 90 centavos a um real. O espaçamento entre árvores é de cerca de 4 metros, sendo que de 6 em 6 meses deve ser feita uma limpeza da área do açaizal, evitando que os cipós cresçam e se enrolem às árvores reduzindo, com isso, a produtividade. Outro ponto importante ressaltado é com a produção de mudas em viveiros, nas áreas de várzeas. Além da consciência gerada, produz-se mudas de açaí de qualidade, bem como de andiroba e cedro, usadas em consórcio com o açaí.
Foi indicada também no filme a importância da apicultura no meio do açaizal, dada a capacidade de polinização das flores pelas abelhas. Pouco se tratou, contudo, no filme das possíveis políticas públicas atuantes na região, a não ser uma leve menção à questão da Agricultura Familiar. Foram apresentadas, ainda, no filme imagens relacionadas ao transporte de madeiras, as quais são, preponderantemente, provenientes de outros estados, posto que na região sua extração encontra-se praticamente extinta.
O filme parece apontar que a motivação financeira de organização e criação da cooperativa, a partir de uma associação já existente, deu-se devido ao interesse de uma empresa americana na compra do produto. A referida cooperativa iniciou seus trabalhos em 14 de maio de 2005, com 30 produtores e hoje conta com 154 integrantes, produzindo o suficiente para enviar, juntamente com outros produtores da região, de 20 a 25 caminhões de açaí in natura, por dia, para Belém e outras cidades. Verifica-se, entretanto, um movimento em direção à industrialização desses produtos. Foi mostrada uma pequena fábrica de palmito, e outra de suco de açaí, essa já preocupada com o uso da casca do açaí para adubo e do aproveitamento (em estudos) de seu caroço para queima nas caldeiras, em substituição à madeira. Segundo o relato do prefeito, o açaí se constitui na principal fonte geradora de renda do município.
Marcos Freitas, 17/11/2010.
Foto: www.nutricaoemfoco.com.br/.../upload/acai.jpg
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment