Thursday, September 28, 2006

POEMA COM CHEIRO DE CHUVA E TERRA MOLHADA

o poema
vem sem medida
(meu coração quase explode
um dia
de dentro do peito
na torre de tv)

calma porém é a minha voz
ao declamar meus poemas/quadros/músicas
sob o sorriso de teus lábios e olhos

o poema
vem sob medida
(repisado enlevo azul cor do céu)
alquebrada voz, meu canto retido
ante tua branda pele de jambo

o poema
vem quase sempre sem medida:
é festa, é lindo, é meigo, é simples:
qual teu ser

Marcos Freitas. Do livro: Raia-me fundo meu sonho tua fala.

ARREBATA-ME



arrebata-me
toma-me pra ti
como a um copo de água pra matar tua sede
se não mais procuro cogumelos pelos campos,
se perco sempre o último trem na estação fria,
se a imagem refletida no espelho já não é a minha,
se meu corpo pede descanso do labor diário,
se minha voz desafinada não canta a música certa,
nada disso importa:
arrebata-me
toma-me pra ti
como a um copo de água pra matar tua sede

Marcos Freitas. Do livro: Raia-me fundo meu sonho tua fala.

Tuesday, September 26, 2006

LIÇÃO DE TEMPO E CLIMA

- Diga não!
- Não...
Fecharam-se o tempo e o clima. E as lágrimas choveram em mim todo o final de semana.

Marcos Freitas. Do livro: Raia-me fundo meu sonho tua fala.

Tuesday, September 19, 2006

Bicicletas de Göttingen

Parti, eu, uma meia dúzia de brasileiros e alguns colegas de diversas nacionalidades, do prédio centenário do Instituto Goethe, em Göttingen, localizado na Merkelstrasse 4, em direção à nova prefeitura. Era já abril, de uma linda primavera, mas ainda fazia frio. Ao menos, para quem vinha abaixo da linha do equador. Tinha ouvido falar de um leilão, que a prefeitura, de quando em vez, realizava, de bicicletas usadas. Seria uma ótima oportunidade de adquirir uma, a bom preço, e conhecer, então, a cidade de Göttingen. Saí do porão do lindo prédio, onde havia inúmeras máquinas de café, chocolate e outras guloseimas. Cruzei o grande salão com piso de madeiras e lareira ao fundo. Salão reservado para as grandes solenidades, como concertos e excepcionalmente uma quadrilha de São João, organizada por mim e outros brasileiros. Mas, isso já é uma outra estória... No leilão, vendo aquelas centenas de bicicletas, imaginei-me conhecendo um monte de lugares vistos nas fotos de Göttingen. A famosa Gänseliesel, em frente à velha prefeitura. A praça Wilhem e a Universidade. O observatório de estrelas, local de trabalho do genial Carl Friedrich Gauß. O grande moinho, no canal do Leine. O Junges Theater, encontro de gente alegre e festeira. A torre de Bismark, alcançada pelas trilhas da floresta. O lago Kies, ao sul de Göttingen. E muitos e muitos outros lugares. Todos esses pensamentos passavam em segundos na minha mente, como passavam os lances do leilão. E aí até entender, processar na mente e traduzir os números ditos em alemão, já tinham sido feitos, no mínimo, mais dois ou três outros lances. Explicando: para se falar “vinte e cinco” em alemão, diz-se “cinco e vinte”. Resultado: nenhum de nós conseguiu comprar bicicleta alguma. Fiquei imensamente triste e já quase indo embora, ouvi alguém, que havia adquirido uma bicicleta, levantar a mesma e gritar algumas palavras a mim incompreensíveis. Daí, um outro alemão, meio em tom de brincadeira, gritou “um centavo”, o que consegui entender. Como num impulso, gritei, em seguida: “dez marcos”. Como ninguém mais se pronunciou, o dono da bicicleta veio falar comigo. Com grande esforço compreendi que havia arrematado a bicicleta e que a mesma tinha apenas um pequeno defeito: um ponto no quadro estava quebrado e precisava de uma pequena solda, coisa simples, pensei. O restante aparentava bom estado de conservação. Em seguida, percorri, empurrando a bicicleta, a cidade quase toda, à procura de uma oficina que a consertasse. Fui informado nessa busca, que havia uma loja próxima à estação principal de trem. Ao chegar mostrei, todo orgulhoso, a bicicleta que tinha comprado, e perguntei da possibilidade de conserto. Qual não foi minha surpresa, quando o dono da loja falou em alta voz: “Müll, total kaputt!”. Não conseguia entender como uma bicicleta quase nova, tinha que ir para o lixo. Pensei em todas as crianças pobres do Brasil. Só descobri a resposta quando vi que o lojista tinha algumas bicicletas usadas para vender. Perguntei o preço de uma que me pareceu interessante. Custava trinta marcos. Comprei-a, então, e deixei a outra “de presente” na loja. Com certeza, o destino imediato dela não foi o lixo. Depois, de posse da bicicleta pude conhecer todos aqueles lugares vistos nos cartões postais, além, é claro, de compreender melhor o significado da expressão: “Müll, total kaputt!”.
(Marcos Airton de Sousa Freitas, Brasília, 30.07.2006).

Publicado em: Foi Legal! Lembranças de ex-bolsistas na Alemanha, DAAD, Rio de Janeiro, Setembro de 2006.

Tuesday, September 05, 2006

O escritor Marcos Freitas lança livros e ganha prêmio em Feira

Marcos Freitas lançou seus livros "Quase um dia" e "Na curva de um rio, Mungubas", editados pela CBJE, no domingo, dia 20 de agosto, das 18 às 19h, na 7ª Bienal Internacional do Livro do Ceará, no Centro de Convenções, em Fortaleza-CE, com a participação dos parceiros musicais Rinaldo Barros e Anand Rao.

Marcos Freitas autografou seus livros "Quase um dia" e "Na curva de um rio, Mungubas", editados pela CBJE e ilustrados por Manoela Afonso, no sábado, 02 de setembro, das 20 às 21h, na 25ª Feira do Livro de Brasília, no Pátio Brasil, Brasília-DF.

Marcos Freitas foi agraciado com o 3º lugar, no Prêmio SESC de Poesia Carlos Drummond de Andrade e participou do lançamento da Coletânea de Poesias editada com os finalistas do prêmio, dia 04 de setembro, durante a 25ª Feira do Livro de Brasília, no Pátio Brasil, Brasília-DF.

Detalhes: http://www.camarabrasileira.com/marcosfreitas.htm

Confira algumas poesias e imagens em: http://manoelaafonso.zip.net/index.html

Para adquirir os livros:

na curva de um rio, mungubas:
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=9041236&sid=97511819711128520958824711&k5=17E6F00E&uid=

quase um dia:
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=9041237&sid=97511819711128520958824711&k5=2A58BE4A&uid=

Friday, September 01, 2006

SEU TEMPO

setembro, dia primeiro, amada!
ipês brancos de Brasília,
(minhas lágrimas secaram,
foram calados minha alegria e voz)
agora, só vós
chorardes brancas lágrimas
- pétalas ao chão -
dialogando com o tempo:
grãos de areia, ampulheta de Aedo