12/12/2012 - 11h12
por Fabiano Ávila, do CarbonoBrasil
Grupo internacional de cientistas comparou as estimativas que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas projetou em seu relatório de 20 anos atrás com dados atuais e constatou que índice de acertos é notável
Muitas vezes acusado de alarmista, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) sempre enfrentou críticas pela maneira como realiza seus trabalhos e apresenta seus resultados. Porém, isso pode ser coisa do passado, agora que já se pode comparar as previsões feitas pela entidade com a realidade climática.
Foi o que fez um grupo de cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, dos Estados Unidos, em conjunto com pesquisadores de diversas universidades. O que esse grupo constatou é que o relatório de 1990 do IPCC está correto na maioria absoluta de suas estimativas. A análise foi publicada nesta semana no periódico Nature Climate Change.
“Descobrimos que as previsões iniciais do IPCC são muito boas e que o clima está respondendo às concentrações de gases do efeito estufa da forma com que cientistas projetavam já em 1990”, afirmou David Frame, diretor do Instituto de Pesquisas em Mudanças Climáticas da universidade de Victoria, na Nova Zelândia.
“A precisão das estimativas de 20 anos atrás é ainda mais notável porque na época os pesquisadores dependiam de modelos computacionais bem mais simples do que os de hoje”, salientou Dáithí Stone, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley.
Há 20 anos, o IPCC estimou que as temperaturas médias globais iriam subir entre 0.35˚C e 0.75˚C até 2010 e hoje vivemos em um planeta 0.39˚C mais quente. Para 2030, a previsão é que o aquecimento seja de 0,7˚C a 1,5˚C.
É importante destacar que o IPCC, estabelecido em 1988 pelas Nações Unidas, não realiza pesquisas originais. O que os milhares de cientistas da entidade fazem é analisar o que está sendo produzido pelos centros de pesquisa climática em todo o mundo e sintetizar esses dados para que possam ser apresentados para a sociedade e, em especial, para os governos.
Cada relatório do IPCC leva pelo menos cinco anos para ser produzido, sendo que já foram divulgados estudos em 1990, 1995, 2001 e 2007. Neste último ano, a entidade recebeu, junto com o vice-presidente norte-americano Al Gore, o prêmio Nobel da Paz.
Porém, o IPCC sempre foi alvo de muitas criticas, principalmente por suas escolhas de que pesquisas fariam parte dos relatórios.
Assim, em 2011, uma reforma foi realizada na instituição e foram adotados novos procedimentos, como a obrigatoriedade dos autores de trabalhos selecionados para compor os relatórios de detalharem afiliações, fontes de financiamento e ligações que podem influenciar os resultados das pesquisas.
Também se definiu que revistas, jornais, blogs e redes sociais não são fontes aceitáveis de informação e que estudos de ONGs e de ativistas climáticos podem ser utilizados desde que cientificamente e tecnicamente válidos.
Segundo Penny Wheton, uma das autoras do terceiro relatório do IPCC, é muito gratificante ver o trabalho da entidade validado por análises independentes e que isso pode facilitar a aceitação dos alertas climáticos pela comunidade internacional, principalmente pelos governos.
“O que o IPCC tem dito há anos está se tornando realidade, evidências suportam isso. O que faremos com nossas emissões daqui para frente é o que vai definir se teremos um aquecimento de 2˚C ou de 5˚C até o final do século”, afirmou Wheton.
Cientistas alertam que manter o aumento das temperaturas abaixo de 2˚C é essencial para evitar as piores consequências das mudanças climáticas.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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