José Carlos Vieira
Carlos Alexandre
Publicação: 09/12/2012 09:02 Atualização: 09/12/2012 18:10
A entrevista estava marcada para ocorrer num café no Pontão. O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Carlos Augusto Ayres Britto chegou pontualmente às 15h. O assunto não era mensalão, política, mas literatura. De início, esse homem de 70 anos, que presidiu a mais alta Corte do país até 18 de novembro, quis admirar o Lago Paranoá e confessar a paixão pelos traços de Oscar Niemeyer diante da Ponte Costa e Silva: “Parecem garças no lago”. Nascido em Propriá, interior de Sergipe, Ayres Britto, de voz mansa e de humor suave, conversou com o Correio por mais de uma hora sobre sua origem, críticos, escritores favoritos e, o mais importante, seus poemas. Está para lançar o sexto livro, DNAlma, e ocupar uma cadeira na Academia Brasiliense de Letras.
Poeta em primeiro lugar
Por favor, fale um pouco da origem. Do menino Ayres Britto.
Um menino do interior que viveu em várias cidades de Sergipe, das quais meu pai era juiz: Propriá, Gararu, Japaratuba… Tive uma infância boa, do ponto de vista familiar, mas com dificuldades econômicas. Nós éramos 11 irmãos e a única fonte de renda era meu pai, que, à época, não era bem remunerado, porque a magistratura não pagava bem. Todos nós tínhamos limitações de ordem material, mas uma infância em que a unidade familiar era muito sólida. Portanto, permeada de carinho, principalmente por parte de minha mãe, que era chegada à arte, à música. Ela cantava e tocava piano e violão. Meu pai era um juiz das comarcas e muito estudioso. Voltado para as letras, era da Academia Sergipana de Letras… O menino Ayres Britto foi um típico garoto de província, de família e de religião — toda a família é católica.
Como e quando foi o seu primeiro encontro com a literatura?
Com 12 anos, já escrevia poesia, porém, tinha mais intimidade com a filosofia. Lembro-me de que, nessa idade, entrava em êxtase com os livros de (Arthur) Schopenhauer, a partir de Dores do mundo. Também admirava poetas, sobretudo os parnasianos, como Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia… e os poetas românticos Fagundes Varela, Castro Alves, Álvares de Azevedo… nunca mais parei de me identificar com os livros. Lembro-me de que, relativamente jovem, fiz um poemeto que começava assim: “Ler. Como eu leio sempre que posso. E como eu posso sempre que leio”. Me identificava muito com os versos de Castro Alves sobre os livros: “Livros... livros à mão cheia.../ E manda o povo pensar!/ O livro caindo n’alma/ É germe — que faz a palma, /É chuva — que faz o mar”.
O senhor guarda boas lembranças…
Era um tempo romântico, lírico, bucólico até. Um tempo em que as pessoas se olhavam nos olhos umas das outras, ou seja, não havia esta competição predatória dos nossos dias. Era uma vida interiorana, em que as pessoas conversavam em cadeiras nas calçadas, nas varandas próximas das ruas, cadeiras de balanço, cadeiras de espaldar. Ainda garoto, já dizia estes versos: “Quem primeiro se senta nessas cadeiras estendidas na calçada é a própria tarde”— era um rudimento de poesia (risos).
Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2012/12/09/interna_diversao_arte,338267/em-entrevista-ao-correio-ayres-brito-fala-sobre-sua-paixao-pela-literatura.shtml
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