Recentemente, durante entrevista no programa de Jô Soares, Juliano Cazarré precisou desfiar explicações sobre sua, digamos, maturidade e felicidade. O ator foi convidado para falar sobre Pelas janelas, a estreia na poesia. O livro recém-lançado pela editora gaúcha Dublinense contém 53 poemas escritos entre 2007 e 2008 e duramente trabalhados e burilados. Não, esclareceu Cazarré durante o programa global, eles não foram escritos por um adolescente e reunidos em um volume nostálgico. São fruto de um momento maduro, uma observação do mundo aperfeiçoada pela condição cênica da vida do autor. E não, eles não tratam de dores profundas. Cazarré não é um beatnik, não gosta de beber até tarde, pratica esportes e tem muito cuidado com a alimentação. “Às vezes, penso que sou muito feliz para ser artista porque não tenho essa dor do mundo”, repara. “Foi um livro pensado, não é um apanhado de poemas de adolescente.”
Em Brasília para passar as festas de fim de ano e descansar dos meses de gravação de
Avenida Brasil e do longa
Serra pelada (dirigido por Heitor Dhalia), Cazarré vai aproveitar para lançar o livro nesta quinta-feira (13/12) à noite na Livraria Cultura (Iguatemi). Será o primeiro passo brasiliense dessa coletânea nascida em São Paulo e ancorada no desejo de enxergar o mundo para além do próprio umbigo. “Depois que defini o tema das janelas, foi muito bom, ele guiou minha busca. Mas também acho que observo bastante o mundo e observar é uma coisa que a gente faz pela janela”, conta. “Escrevi os poemas numa época em que eu morava em São Paulo, uma época em que estava pobre de janelas e isso sensibilizou meu olhar. Lembro que saía na rua e o olho nunca fazia foco em uma coisa longe porque logo tinha uma coisa perto, uma parede, uma obra.”Leia poema de Juliano Cazarré.A janela de Borges
Uma janela de frente para outra igual a ela
Como dois espelhos a se refletir infinitamente.
Um homem debruçado em seu parapeito veria.
À sua frente, seu duplo a mirá-lo à janela.
Uma janela com vista ao labirinto
Onde Teseu encontra Astérion dormindo
E com um punhal de prata, punhal argentino,
Extermina o Minotauro sem ser combatido.
Uma janela de cristal de onde se vê o todo do mundo:
O populoso mar, a aurora e a tarde, um tigre, uma teia
De aranha no centro de uma pirâmide, um rei banguela.
Onde antes havia uma árvore, vê-se um círculo de terra.
Dessa janela de cristal é possível ver Londres e Genebra,
De onde Borges observa Borges cego em sua biblioteca.
SERVIÇO:
Quando: quinta-feira (13/12)
Onde: à noite na Livraria Cultura (Iguatemi).
Fonte:
http://divirta-se.correioweb.com.br/materias.htm?materia=17748&secao=Programe-se&data=20121206
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