Diego Ponce de Leon
Publicação: 12/05/2014 06:09 Atualização: 11/05/2014 23:13
"Indiscutivelmente,
o rap tem sido fundamental na propagação do cotidiano das periferias",
atesta o rapper Criolo, um dos responsáveis pela promoção nacional do
gênero que, aos poucos, transgride os limites periféricos.
Para
muitos, no entanto, o rap permanece restrito aos guetos e ao
preconceito. Mas nem por isso perde a sua força. Pelo contrário: cumpre o
papel primordial que lhe é atribuído. "Os rappers acabam atuando como
porta-vozes da periferia. Recriam, poeticamente, o cotidiano da
comunidade, registrando o que se vive, no que diz respeito ao
preconceito, à violência, à segregação socioespacial, à dificuldade de
acesso a direitos básicos, como saúde e educação", explica a doutoranda
Laetícia Jensen Eble, que desenvolve, na Universidade de Brasília (UnB),
uma densa pesquisa sobre literatura marginal e periférica, com ênfase
nos autores do movimento hip-hop.
Em um segundo momento, segundo
ela, "eles são representantes do mundo, oferecendo uma perspectiva
singular sobre o que ocorre ao seu redor, diferente daquela versão
reproduzida pelo discurso dominante". Os relatos desta página ilustram
as enfermidades sociais listadas. Mas, igualmente, sugerem a
possibilidade de prevenção e, quem sabe, de cura.
Sonho de uma menina de 15 anos
Ela
ainda beira os 20 anos, mas já é conhecida como uma das promessas do
rap de Brasília. Como acontece na vida da maioria que vive em regiões
periféricas marcadas pelo abandono público e pela violência, a jovem
Layla Moreno encara um cotidiano repleto de dificuldades no Varjão.
"Nosso
barraco foi derrubado recentemente. Tivemos que pedir ajuda para uma
amiga", relata a rapper, que hoje divide um quarto com a mãe. O irmão
mora com a avó, no terreno ao lado. "Levou quatro tiros um tempo atrás,
quando foi confundido com um marginal. Quer ir embora agora".
Layla conheceu o rap por meio de um amigo e encontrou no gênero uma
válvula de escape para uma realidade tão atroz. "Foi logo depois que meu
pai morreu. Foi a maneira que encontrei de lidar com aquilo tudo". O
pai de Layla faleceu na prisão, onde cumpria pena por tráfico de drogas.
"Felizmente, eu nunca me envolvi com nada disso. Meu único vício é o
rap".
Como a carreira ainda não paga as contas, a artista
trabalha em um salão afro e frequenta a faculdade de enfermagem, à
noite. "Um investimento para que eu possa seguir no caminho da música,
minha prioridade", decreta. A trajetória de Layla mal começou, mas ela
já se mostra grata: "Pode não parecer muito, mas jamais achei que
pudesse conhecer algumas pessoas que admiro e subir em tantos palcos".
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2014/05/12/interna_diversao_arte,427072/rappers-do-df-filtram-das-mazelas-sociais-os-motivos-de-seus-versos.shtml
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