Wednesday, August 22, 2007
Climério Ferreira: Memomial de Mim
OS QUINTAIS DO MUNDO
Cineas Santos
Se o menino é o pai do homem, como queria o velho Bruxo, Climério foi um menino de olhos gulosos, olhos maiores que a barriga, para usar uma expressão bem piauiense. Enquanto corria atrás do dia por ruas empoeiradas, becos e quintais da pequena Angical, ia recolhendo tudo o que, aos olhos apressados, não tinha qualquer serventia.
Quanto partiu – um dia, todos partimos – levou no embornal da memória aquele cabedal de “inutilidades” e se fez sovina. Para evitar que alguma coisa se perdesse no chão das lonjuras, foi estreitando a fenda dos olhos até que se tornassem dois riscos de nanquim num rosto de lua cheia, réplica apurada de um velho chinês.
Com o tempo, aquele rebotalho foi-se decantando até tornar-se poesia, poesia em estado puro, límpida e cristalina como a água das fontes escondidas. Foi aí que Climério Ferreira percebeu que a sovinice já não tinha razão de ser: generosamente, abriu o baú da memória e nos convidou a compartilhar com ele o que, um dia fora de todos; depois só dele e, agora, do mundo. Memorial de Mim é bem mais que “as lembranças poéticas de um menino de Angical”; é o mundo transfigurado pelo poder mágico da poesia.
Climério Ferreira, poeta e letrista, nasceu em Angical do Piauí, em março de 1943. Livros publicados: Memórias do Bar do Pedro & Outras Canções (1975); Canto do Retiro (1976); A Gente e a Pantasma da Gente (l978); Alguns Pensames (l981) Essa Gente, em parceria com o artista plástico Duarte (1984); Artesanato Existencial (1998); Pretéritas Canções (2006). Participou das revistas Alguma Poesia (RJ), Porretas (BSB), Rio (PI); e das antologias Baião de Todos e Mais Uns/Coletivo de Poetas. Como letrista, é parceiro de Ednardo, Clodo, Clésio, Dominguinhos, Antonio Adolfo, Aloísio Brandão e muitos outros.
http://climerioferreira.sites.uol.com.br
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