(*) Durvalino Couto Filho
Durante o Salipi, quando apresentei à platéia o trabalho do amigo músico e professor, Feliciano Bezerra, sobre a escritura de Torquato Neto, divaguei, com consentimento dele, sobre o hábito de ler e o que ele pode representar para um povo e nação.É claro que esbarrei no ranking vexatório do Brasil nesta área. Podemos resumir a situação nacional a uma condição miserável: somos um país de analfabetos. Quando não totalmente analfabetos, temos um contingente gigantesco do que se costumou chamar de “analfabetos funcionais” – e ainda aquele contingente de brasucas que, mesmo dominando as ferramentas da leitura, não lêem bulhufas, por preguiça ou falta de hábito.
Para uma platéia de professores, professoras e centenas de estudantes, perguntei-lhes se eles conseguiam se lembrar como eram suas cabeças antes de aprender a ler, se eles conseguiam se situar nesta condição. Para mim, isto me parece impossível, pois a leitura, quando praticada e não soletrada, é automática, instantânea, de forma tal que não conseguimos, por mais que queiramos, nos colocar no lugar de um analfabeto, aquele que vive nas trevas.
Por último, falei-lhes de minha experiência de mais de 20 anos como publicitário, profissão que me deu a chance de criar junto com meus colegas de agência várias campanhas institucionais de cunho educativo, como as de vacinação e de combate a doenças como o cólera ou o sarampo. Falei-lhes que, por conta do baixíssimo nível de leitura do nosso povo, essas campanhas tornam-se caríssimas – pois dada a limitação enraizada na nossa população em não ler, os custos de mídia das campanhas atingem proporções estratosféricas, pois só nos resta o recurso das mídias eletrônicas, sempre muito caras. Esses custos cairiam substancialmente se o nosso povo soubesse decifrar um simples folheto. Daí que terminei por dizer que uma das causas plausíveis desta epidemia de dengue deve-se ao analfabetismo quase total de nossa população (inclusive aqueles que moram na Zona Leste com seus carrões possantes, seus celulares de última geração e livro nenhum em casa).
É terrível saber que, mesmo no continente sul-americano, uma cidade (veja, uma cidade) como Buenos Aires, capital da Argentina, tem mais livrarias do que todas as cidades do Brasil juntas. Se o Salipi contribuir para aumentar em 1% o nível de leitura do piauiense, já terá prestado um relevante serviço a esse povo que não lê seus poetas, não lê seus cronistas, seus romancistas, seus jornalistas – e mal sabe escrever o próprio nome.
Resumindo: analfabeto é mais caro.
(*) Durvalino Couto Filho é jornalista e publicitário
ALFABETIZAÇÃO
alfabetizou-se pelo MOBRAL
teve assistência do Projeto Rondon
aventurou-se no Esquema I e no Projeto Minerva
acompanhou todo o Telecurso Segundo Grau
excursionou no Comunidade Solidária
e agora vive às turras com a tal Exclusão Digit@l
Marcos Freitas. In: Moro do Lado de Dentro, CBJE, Rio de Janeiro, 2006.
Friday, June 22, 2007
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