Friday, June 22, 2007

O analfabetismo e a dengue

(*) Durvalino Couto Filho

Durante o Salipi, quando apresentei à platéia o trabalho do amigo músico e professor, Feliciano Bezerra, sobre a escritura de Torquato Neto, divaguei, com consentimento dele, sobre o hábito de ler e o que ele pode representar para um povo e nação.É claro que esbarrei no ranking vexatório do Brasil nesta área. Podemos resumir a situação nacional a uma condição miserável: somos um país de analfabetos. Quando não totalmente analfabetos, temos um contingente gigantesco do que se costumou chamar de “analfabetos funcionais” – e ainda aquele contingente de brasucas que, mesmo dominando as ferramentas da leitura, não lêem bulhufas, por preguiça ou falta de hábito.
Para uma platéia de professores, professoras e centenas de estudantes, perguntei-lhes se eles conseguiam se lembrar como eram suas cabeças antes de aprender a ler, se eles conseguiam se situar nesta condição. Para mim, isto me parece impossível, pois a leitura, quando praticada e não soletrada, é automática, instantânea, de forma tal que não conseguimos, por mais que queiramos, nos colocar no lugar de um analfabeto, aquele que vive nas trevas.
Por último, falei-lhes de minha experiência de mais de 20 anos como publicitário, profissão que me deu a chance de criar junto com meus colegas de agência várias campanhas institucionais de cunho educativo, como as de vacinação e de combate a doenças como o cólera ou o sarampo. Falei-lhes que, por conta do baixíssimo nível de leitura do nosso povo, essas campanhas tornam-se caríssimas – pois dada a limitação enraizada na nossa população em não ler, os custos de mídia das campanhas atingem proporções estratosféricas, pois só nos resta o recurso das mídias eletrônicas, sempre muito caras. Esses custos cairiam substancialmente se o nosso povo soubesse decifrar um simples folheto. Daí que terminei por dizer que uma das causas plausíveis desta epidemia de dengue deve-se ao analfabetismo quase total de nossa população (inclusive aqueles que moram na Zona Leste com seus carrões possantes, seus celulares de última geração e livro nenhum em casa).
É terrível saber que, mesmo no continente sul-americano, uma cidade (veja, uma cidade) como Buenos Aires, capital da Argentina, tem mais livrarias do que todas as cidades do Brasil juntas. Se o Salipi contribuir para aumentar em 1% o nível de leitura do piauiense, já terá prestado um relevante serviço a esse povo que não lê seus poetas, não lê seus cronistas, seus romancistas, seus jornalistas – e mal sabe escrever o próprio nome.
Resumindo: analfabeto é mais caro.
(*) Durvalino Couto Filho é jornalista e publicitário


ALFABETIZAÇÃO

alfabetizou-se pelo MOBRAL
teve assistência do Projeto Rondon
aventurou-se no Esquema I e no Projeto Minerva
acompanhou todo o Telecurso Segundo Grau
excursionou no Comunidade Solidária
e agora vive às turras com a tal Exclusão Digit@l

Marcos Freitas. In: Moro do Lado de Dentro, CBJE, Rio de Janeiro, 2006.

Thursday, June 14, 2007

IV Festa Junina da Tradição Nordestina



Não percam!!!! haverá ainda a apresentação do Boi do Seu Teodoro....
Ingresso: R$ 10,00 (inteira); R$ 5,00 (meia)
Sócios da ASEFE e da ACAMPI não pagam.


Monday, June 11, 2007

GEOGRAFIA POÉTICA DO DISTRITO FEDERAL



A Thesaurus Editora e Poetas têm o prazer de convidar para o lançamento da coletânea poética comemorativa ao cinqüentenário do Distrito Federal, “GEOGRAFIA POÉTICA DO DISTRITO FEDERAL”, organizado por Ronaldo Alves Mousinho no dia 13/6/2007 (4ª feira), no Foyer da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro - Brasília-DF, a partir das 19h.


Figuram na coletânea os poetas: Adison do Amaral, Aglaia Souza, Anderson de Araújo Horta, Anderson Braga Horta, Ana Reis, Ângelo D’Ávila, Antônio Carlos Sampaio Machado, Antonio Miranda, Antonio Garcia Muralha, Carlos Augusto Cacá, Áureo Melo, Antônio Temóteo dos A. Sobrinho, Avelino Moreira, Áurea Portilho, Cassiano Nunes, Da Costandrande, Donzílio Luiz, Denise Viana Toledo, Elton Skartazini, Erivaldo Soares, Ézio Pires, Fernando Mendes Vianna, Hélio Soares Pereira, Henriques do Cerro Azul, Ildefonso Sambaíba, Isolda Marinho, Josélia Costandrade, João Carlos Taveira, Joanyr de Oliveira, Joilson Portocalvo, José Geraldo, José Peixoto Júnior, José Santiago Naud, Lina Tâmega Peixoto, Luiz Manzolillo, Lurdiana Costa, Marcos Freitas, Maria Braga Horta, Maria de Jesus Evangelista, Maria Vanildes Alves, Miguel J. Malty, Newton Rossi, Nina Toledo, Nicolas Behr, Popó Magalhães, Ronaldo Alves Mousinho, Salomão Sousa, Sônia Carolina, Terezy Fleury de Godoi e Xiko Mendes.


O público será prestigiado com recital de violino, piano, violão e voz que tocará Heitor Villa Lobos, Bach, Vivaldi entre outros clássicos, executados pelos músicos Clinaura Macêdo (violino) Esther Chung (piano), Anand Rao (violão e voz) e a participação especial de Liliana Gayoso, no violino.


A inciativa conta com o apoio da Academia Taguatinguense de Letras, Academia de Trovarores do DF, Academia Ceilandense de Letras e Artes Populares, Sindicato dos Escritores do DF, Comitê Independente de Apoio às Artes do Piauí/Brasil e Nação Piauí.



Monday, June 04, 2007

Karluv Most

Percorria aquela rua escura e estreita em meio ao nevoeiro. A noite já ia alta. O burburinho dos últimos bares e tavernas ainda se ouvia ao longe. De súbito, aquela figura de mulher, ainda adolescente, aproximou-me daquele praça, da Catedral de Tyn, circundou a Prefeitura, prédio imponente com seu histórico relógio astronômico. Não sei se o último metrô ainda havia. A estação Staromestská certamente estaria fechada. O caminho a ser seguido então passava pela Ponte Carlos, rio Vltava. O seu rosto alvo e o verde de seus olhos resplandeciam na atmosfera fria. Encostado à mureta, vi-a atirando-se dali, rodopiando no ar feito folha seca no outono e por fim pousando junto aos outros pombos, lá embaixo, próximo aos faróis que iluminam a ponte, ao lado da velha eclusa.

Marcos Freitas.

In: Antologia de Contos de Autores Contemporâneos - vol. 13, CBJE, 2005.

Confissão

não, que eu não saiba o que sinto,
o que sou, haja vista meu instinto
de ser todo desejo, de não ter
do amor, o medo;
de não ter
da consciência, o nexo;
de não poupar
de meu pensamento, teu sexo.

não, que eu não saiba o que sinto,
pra onde vou, haja vista que tenho
a pretensão tamanha, de beber
de tua taça, de teus sonhos;
de prender pra mim,
teus olhos, teus abraços;
de te saber como alimento,
sendo eu,
neste ato de amor,
réu confesso.

Marcos Freitas.

In: Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - Vol. 24, CBJE, 2006.

Frugal Poema

transido destino no afunilado amanhecer de sábado
meus olhos vestem o doce mel da brisa costeira
colgando de suavidadea ofegante coruscação
de meu coraçãoe senão maltrapilhos
a manhã é malina
pífia é a minha relutância
em sobreviver com a pureza da terra e do fogo
que me é apresentada
vívido vociferar de vorazes vagas
erode minha poesia auroral:
idílica cicatriz,
frugal poema

Marcos Freitas.

In: Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - Vol. 4, CBJE, 2004.

Video na 7ª Bienal Internacional do Livro do Ceará:
http://uol01.unifor.br/oul/MultimidiaVideo.do?target=maisVistos#