Pablo Cavalcante - especial para Entretextos
No
último dia 15, a poetisa piauiense Graça Vilhena esteve lançando seu
mais novo livro. Pedra de Cantaria traz poemas até então inéditos.
Confira entrevista inédita com a autora..
Pedra de Cantaria. Por que a escolha desse título metalinguístico?
Pedra
de Cantaria é uma pedra que é cortada para o trabalho, por exemplo, a
pedra portuguesa, o paralelepípedo de rua, ou o bloco de mármore. É uma
pedra que já vem cortada. A ideia é que vou trabalhar essa pedra, que é
a palavra; para que, de qualquer maneira, seja uma obra bonita para ser
apreciada; ou seja uma obra social, que envolva o pedreiro que trabalha
na rua... Essa é a mensagem: a poesia não é algo fácil de ser feito.
Sua poesia é recheada de lirismo, no dizer do professor Cineas Santos, "lirismo em alta voltagem". O que é lirismo pra você?
O
lirismo, pelo que entendo, pode acontecer em qualquer texto, até em
filmes. É aquele momento que emociona e envolve o leitor. Nesse caso,
seria uma poesia que emociona. Além de ser a presença do eu lírico, que é
aquele que vai expressar os sentimentos e as emoções dele com relação a
ele mesmo e ao mundo.
O que, na sua concepção, define sua poesia?
Eu
acho que poesia é uma maneira de olhar pras coisa. Eu falo assim: um
leitor de poesia é um poeta que não escreve. Quem vai escrever tem um
olhar que dali vai partir uma ideia, que, ao contrário do que pensamos,
não é inspiração. Minha poesia, no meu entender, parte de uma ideia.
É
um trabalho mesmo, um trabalho intelectual. Um trabalho difícil, porque
é sintético, porque você tem que dar novos significados a palavra. Às
vezes, você a uma palavra gasta pelo uso uma nova roupagem; trabalha a
figuração; trabalha outros recursos que são poéticos. Eu acho que o
poeta já nasce pré-disposta a fazer isso, que é esse olhar sobre as
coisas, olhar do qual ele consegue tirar i uma expressão literária; uma
coisa que vá envolver o leitor, ou também causar protesto. A poesia pode
servir pra tudo.
É possível contar um pouco da construção desse livro?
Esses
poemas, eu venho construindo esporadicamente. Eu venho juntando alguns
poemas... Uns saíram com facilidade, outros não, demoraram mais para
serem feitos. O certo é que eu
já tinha esses poemas há muito tempo prontos, porque eu já tinha a
pretensão de editar. Não foi algo que eu fizesse agora.
Há grande identificação do público feminino com sua poesia, conforme foi visto no SALIPI. A que você credita essa identificação?
Ao
meu olhar sobre a mulher. Eu não vejo nunca a mulher como uma flor, ou
um ser sinônimo de sensibilidade. Nada disso! A mulher é muito forte, eu
acho que é com isso que o público se identifica. Há também uma
identificação na própria concepção do amor, porque na minha poesia, o
amor não tem nada de romântico. É um amor bem realista, do jeito que ele
acontece hoje, aquele amor que começa e termina, não é aquele eterno
amor.
O homem talvez possa se identificar também, mas a mulher fala mais. Ela se expressa mais.
“Faço de conta
que o amor
é copo d´água
basta-lhe a sede
e não o mar”
que o amor
é copo d´água
basta-lhe a sede
e não o mar”
(Sede. Graça Vilhena)
Sua avó foi poetisa e membro da Academia Piauiense de Letras. De que forma isso lhe influenciou como escritora?
Acho
que, mesmo que ela não existisse, eu seria poeta. A poesia veio pela
genética. Não sou apenas eu, tenho um primo, já falecido, tem meu irmão
que também é poeta. Essa carga lírica que ela nos deixou é muito boa.
Foi ela que me alfabetizou e ela me ensinou uma coisa muito
interessante: Nos aprendemos a ler para ler.
Lembro
que eu comecei a ler cedo. Por volta dos doze anos, eu já havia lido
Espumas Flutuantes, de Castro Alves. Ela me deu todos os poetas, por
isso, não posso dizer por qual deles eu fui mais influenciada, porque
foram tantos. Essa poesia foi construída através de leituras, através de
muito tempo, desde os clássicos até os modernistas. Foi assim que ela
me influenciou, por proporcionar a leitura.
Ela gostava muito de soneto, então eu escrevia um soneto pra agradá-la e um outro poema ao eu gosto.
Você gostaria de deixar algum recado para os leitores do Entretextos?
Eu
passei muito tempo com os meus poemas guardados, sem que ninguém
soubesse da sua existência. Por causa da timidez, ninguém quer mostrar,
pensa que não escreve bem, mas eu sei que tem muitos jovens que escrevem
poesias e que nasceram pra serem poetas. Nós temos que aprender com o
tempo, se com o tempo ele abandona, não nasceu para aquilo, mas eu sei
que tem muita gente por aí com textos guardados na gaveta. Eu peço que
batalhem e corram atrás, porque nos queremos conhecer suas produções.
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