previsão do tempo
o morto esboçado no chão com
sua moto
não é lembrado no Mercado
Central
onde cresceu e há anos não
aparece
o recém nascido Evangelina Rosa
grita
[primavera rouca
coro que anoitece os olhos do
pai
pétalas de aço enferrujado
rasgam o asfalto
Frei Serafim meio do dia da
quentura dos infernos
ônibus tiram fino das garotas
CPI todas iguais
a cidade respira pulmões
encardidos
e o som vibrante de linhas com
cerol nos
[postes do Mafuá
trilha o
cotidiano de almas estendidas em varais
despertar
ao
escritor Assis Brasil
urubus nos postes do Parque
Piauí
esperam miúdos de frango
jogados na mesma rua
onde Assis caminha com o Brasil
no peito
na cabeça na caneta rumo ao
mercado
uma carroça de massará
range ferro com ferro
a ferrugem a madeira o capim
o chicote nas costas do animal
o
bater de asas da liberdade
rumo à carniça
o sino do motoqueiro do gás
o silêncio de Assis
na manhã: não importa
todos os
ruídos são despertos
a Tabuleta é um bairro
pesado
durante o dia feéricas ondas de
calor com areia
misturadas ao óleo diesel
borracha ferrugem e saudade
envelhecem acontecimentos
presentes
torrão chapado no corisco
acabaram com teu engarrafante
torto balão
teu centro reformaram reto,
encruzilhante
porto das miragens litorâneas
que brotam
[do asfalto meio dia
Av. Barão de Gurguéia com a BR
343
à noite, junto de gestos
precários
homens sem sombra, partes da
clandestina escuridão
são destruídos pelo peso de
grandes Scanias
[que rompem pra Timon carregadas de sal
adiante, zona sul, esquina da
Mapil
garotas de esqueléticas formas,
comedoras de brasa
cuspidoras
de fogo!
atiçam corações feridos de aço
e sucata,
esmagados
pelo esquecimento
MLEITE, RODRIGO /
1989
POEMAS D’A
CIDADE FRITA / 3ª EDIÇÃO
EDIÇÕES PAISSANDU /
TERESINA: 2013
RODRIGOEMELEITE@GMAIL.COM
AMUSAESQUECIDA.BLOGSPOT.COM.BR
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