Azulejos retorcidos pelo tempo
Fazem paisagem agora no abandono
A que eu mesmo releguei um mal distante.
Faz muito tempo e a paisagem é a mesma
Não muda nunca – sempre indiferente
A céus que rolem ou infernos que se ergam.
Alguns vitrais. E em cinerama elástico
O mesmo campo, o mesmo amontoado
Das lembranças que não querem virar cinzas.
Três lampiões. As côres verde e rosa
A brisa dos amores esquecidos
E a pantera, muito negra, das paixões.
Não passa um rio enlameado e doce
Nem relva fresca encobre a terra dura.
É só calor e ferro e fogo e brasa
Que insistem como cobras enroladas
Nos grossos troncos, medievais, das árvores.
Uma eterna camada de silêncio
E o sol cuspindo chumbo derretido.
O céu é azul – e como não seria?
mas tão distante, tão longínquo e azul
TORQUATO NETO. Panorama visto da ponte. In: CASTELO BRANCO, Edwar de A. Todos os dias de Paupéria: Torquato Neto e a invenção da Tropicália. São Paulo: Annablume, 2005, p. 158.
Friday, January 18, 2008
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