É um desafio lançar livros no Piauí, atestam Valciãn Calixto, Gabriela Aguiar, Demétrios Galvão e Fernanda Paz, alguns dos novos escritores do Piauí
Escrever é uma tarefa solitária, diz uma sentença sem aspas ou
autor conhecido. Todos os dias, anonimamente, piauienses (e outros
cidadãos no mundo inteiro), produzem histórias que viram contos,
crônicas, postagens em redes sociais ou blogs na internet, matérias de
jornal, poesias. Algumas delas têm um rumo certo: virar livro. E
seduzir, prender atenções, fazer sonhar, provocar encantamento, arrancar
sorrisos ou lágrimas de desconhecidos leitores.
Organizar ideias, pensamentos, histórias, versos, parágrafos em um livro não é fácil, nem barato. É um desafio lançar livros no Piauí, atestam Valciãn Calixto, Gabriela Aguiar, Demétrios Galvão e Fernanda Paz, da nova safra de autores da terra natal de literatas do quilate de O.G Rêgo de Carvalho, Assis Brasil, Da Costa e Silva, Mário Faustino, de uma lista imensa de gênios imortais.
Estes jovens autores conversaram com O Olho e falaram das dores e delícias de ser escritor no Piauí.
VALCIÃN CALIXTO
Formado em Comunicação Social pela Uespi (Universidade Estadual do Piauí), Valciãn Calixto, 24 anos, canta que o gosto pela literatura começou por volta dos 13, em leituras pontuais na casa da avó. “Eu costumava passar finais de semana na casa de minha falecida vó e tinha uma tia professora, ela possuía bom acervo de paradidáticos como Blackout, O Escaravelho do Diabo, outros, então meus primos mais velhos iam jogar bola, as mulheres da casa dormiam durante a tarde, meu vô jogava baralho até anoitecer com alguns tios e amigos”, relembra.
“O que me restava? Ler os paradidáticos e não só eles, livros de Redação e Gramática também que minha tia costumava usar em sala de aula. Por volta dos treze anos ganhei um caderno cuja capa me impressionou bastante, decidi que iria usá-lo apenas para escrever textos meus”, completa.
De leitor de livros didáticos e paradidáticos da tia, Valciãn tornou-se escritor depois que uma gráfica paulista decidiu publicar um livro seu. “Há uma história anterior à de escritor que é a de leitor e que hoje seguem juntas”, diz o autor de “Reminiscências do caseiro Genival”, obra lançada este ano e que tem como temas condutores, assuntos áridos como câncer, esquizofrenia, racismo, ansiedade, aborto e até suicídio.
“O poeta é movido a fragmentos, pelo menos eu, com o pouco que entendo de produção contemporânea. Tenho interesse pela poesia russa do século XX de nomes como Joseph Brodsky, Serguei Iessienin, nos autores afroamericanos como Maya Angelou e Cheryl Clarke passeando pela poesia portuguesa de Sophia de Mello Breyner Andresen, no poeta peruano César Vallejo. Possuo certo fascínio pela poesia mineira que vai de Murilo Mendes ao Marcelo Diniz e piauiense com Mário Faustino e Nathan Sousa”, diz o poeta sobre suas referencias literárias.
Para Calixto, lançar um livro no Piauí é tão difícil como “gravar um disco, montar uma peça ou um espetáculo de dança”. “Nem por isso Assis Brasil deixou de ser dos grandes autores piauienses premiados Brasil afora, como o Balé de Teresina ou as telas do senhor Nonato Oliveira e ainda as performances e instalações benquistas internacionalmente do Marcelo Evelin. Mais do que dom, vocação ou similares, é preciso, como diria Milton, ter manha sempre”, dialoga Valciãn Calixto, que além de escritor é compositor, guitarrista de uma banda e integrante de um movimento cultural chamado TrisTherezina, do qual já falamos aqui em O Olho.
FERNANDA PAZ
Os novos escritores piauienses adotaram a produção independente como maneira de facilitar o nascimento de seus filhos, os livros. “É muito comum no nosso estado os escritores lançando seu material de forma independente. Alguns recorrem a editoras de fora que costumam publicar trabalhos de autores iniciantes com um custo menor, como eu fiz. Infelizmente na realidade do nosso estado faltam editoras que acreditem no potencial dos escritores iniciantes, bem como políticas públicas voltadas a essa área”, considera Fernanda Paz, autora de "O Buraco e outras histórias", livro de contos baseados em ocasiões do dia-a-dia.
“Situações cotidianas ou fictícias podem ser repassadas ao público de forma simples e acessível e qualquer um de nós pode ser um personagem principal cheio de dilemas ou loucuras em uma história qualquer”, defende a escritora, que lançou o livro através de uma editora carioca.
Fernanda conta que começou a participar de publicações em 2012. Por volta do ano de 2009 alimentava semanalmente um blog pessoal (chamado Libélula Paz, hoje extinto) com poesias, contos e reflexões. “Também fazia fanzines que circulavam entre grupos de amigos. Entretanto desde criança sempre criava histórias que eram lidas por amigos e familiares”, comenta.
A jovem escritora já participou de diversas coletâneas e versa entre prosa e poesia. “Me inspiro principalmente nas pessoas ao meu redor, as relações entre pessoas, as ações e pensamentos que nos diferencia tanto e ao mesmo tempo nos iguala uns aos outros”, sintetiza Fernanda Paz.
GABRIELA AGUIAR
“Eu escrevo desde pequena, não sei dizer exatamente quando. Minha melhor forma de expressão sempre foi a escrita. Demonstrava o que estava sentindo através de cartinhas e poemas”, confidencia a escritora Gabriela Aguiar, 22 anos, autora de "Joaquim e Silvia, com amor", um romance ficcional que trata da falta de comunicação das pessoas e sobre como isso afeta os relacionamentos.
Em sua segunda publicação, que ainda vai ser lançada, a escritora que fala sobre sertanejos que vivem afastados de centros urbanos, sem água, energia e progressos. “É um livro-reportagem, uma abordagem sobre a história dessas pessoas”, resume Gabriela a obra, intitulada "À Beira da Estrada".
“Tudo inspira. Escrever é você olhar para algo que todo mundo vê e enxergar além. É sensibilidade”, discorre a escritora acrescentando que “a maior dificuldade são os custos, lançar um livro não é barato”.
“E a falta de interesse das pessoas com a literatura piauiense também é um agravante, porque as pessoas não se interessam muito em comprar livros de autores piauienses, elas não valorizam, nem se interessam muito em ir atrás pra saber do que se trata a história”, prossegue a escritora.
Gabriela Aguiar, que é jornalista, conta que escreve mais por paixão “do que qualquer outra coisa”. “Muita gente reclama dos preços também, as pessoas não sabem que lançar livro aqui quase não se tem lucro, o dinheiro das vendas é basicamente para pagar o que foi gasto com a publicação. O Piauí tem muita gente boa e muita gente que escreve bem. Vários livros são lançados por ano, mas poucas pessoas ficam sabendo”, assinala.
DEMÉTRIOS GALVÃO
“Fugindo do espaço escolar, encontrei as bibliotecas públicas do centro da cidade – Biblioteca Abdias Neves, Cromwell de carvalho, SESC Av. Maranhão, Casa da Cultura”, narra o escritor Demétrios Galvão sobre o nascimento de seu interesse pela literatura.
“Nesse primeiro momento, foi o instante de descobertas profundas e de mergulho no campo de possibilidades criativas e sensíveis, que não haviam sido me ensinadas na escola”, acrescenta ele, que ingressou na literatura há 15 anos, lançando poemas em fanzines e livretos que ele mesmo produzia.
Seu primeiro livro, ainda que meio caseiro/artesanal, foi lançado 2001 e intitulado “Cavalo de Tróia”. “Em 2002, participei de um concurso literário, fiquei em terceiro lugar e tive o livro “Fractais Semióticos” publicado pela Fundac (Fundação Cultural do Piauí) em 2005, em um volume juntamente com os autores que ficaram em primeiro e segundo lugar”, relembra Demétrios Galvão, poeta, mestre em história, professor universitário e coeditor da revista Acrobata.
No decorrer de 2011, Demétrios lançou o livro “Insólito”, em parceria com a editora de um amigo poeta e editor de Fortaleza/CE. Ano passado, agora em parceria uma editora paulista, o autor lançou outro volume. “Paguei o livro, mas dividindo as despesas com o editor”, comenta Galvão.
“Para publicar não existe receita pronta. É preciso experimentar, buscar alternativas e não se sujeitar às limitações. Hoje cada vez mais temos opções e editoras independentes abrindo espaços para jovens escritores. O cenário de hoje é bem melhor e mas amplo, do que o de 10 ou 15 anos atrás, quando comecei a escrever”, pondera o escritor, que já pode ser considerado experiente universo editorial.
Demétrios Galvão avalia que as ausências de um circuito editorial aberto e de um público consumidor que sustente o circuito de publicações são as maiores dificuldades enfrentadas por quem pretende se lançar no mercado. “Também não temos um jornalismo cultural e críticos que façam resenhas e comentários do que está sendo publicado. Quando muito, aparece alguém para fazer críticas destrutivas. Mas penso, que aos poucos, nosso cenário está melhorando”, critica o autor de Bifurcações, lançado ano passado.
Demétrios Galvão, Valciãn Calixto, Gabriela Aguiar e Fernanda Paz são apenas quatro representantes da nova leva de autores que oxigena o universo literário no Piauí, terra de conhecidos e anônimos contadores de história.
Fonte: http://noticias.oolho.com.br/noticia/livros-dores-e-delicias-da-nova-safra-de-escritores-piauienses
Organizar ideias, pensamentos, histórias, versos, parágrafos em um livro não é fácil, nem barato. É um desafio lançar livros no Piauí, atestam Valciãn Calixto, Gabriela Aguiar, Demétrios Galvão e Fernanda Paz, da nova safra de autores da terra natal de literatas do quilate de O.G Rêgo de Carvalho, Assis Brasil, Da Costa e Silva, Mário Faustino, de uma lista imensa de gênios imortais.
Estes jovens autores conversaram com O Olho e falaram das dores e delícias de ser escritor no Piauí.
VALCIÃN CALIXTO
Formado em Comunicação Social pela Uespi (Universidade Estadual do Piauí), Valciãn Calixto, 24 anos, canta que o gosto pela literatura começou por volta dos 13, em leituras pontuais na casa da avó. “Eu costumava passar finais de semana na casa de minha falecida vó e tinha uma tia professora, ela possuía bom acervo de paradidáticos como Blackout, O Escaravelho do Diabo, outros, então meus primos mais velhos iam jogar bola, as mulheres da casa dormiam durante a tarde, meu vô jogava baralho até anoitecer com alguns tios e amigos”, relembra.
“O que me restava? Ler os paradidáticos e não só eles, livros de Redação e Gramática também que minha tia costumava usar em sala de aula. Por volta dos treze anos ganhei um caderno cuja capa me impressionou bastante, decidi que iria usá-lo apenas para escrever textos meus”, completa.
De leitor de livros didáticos e paradidáticos da tia, Valciãn tornou-se escritor depois que uma gráfica paulista decidiu publicar um livro seu. “Há uma história anterior à de escritor que é a de leitor e que hoje seguem juntas”, diz o autor de “Reminiscências do caseiro Genival”, obra lançada este ano e que tem como temas condutores, assuntos áridos como câncer, esquizofrenia, racismo, ansiedade, aborto e até suicídio.
“O poeta é movido a fragmentos, pelo menos eu, com o pouco que entendo de produção contemporânea. Tenho interesse pela poesia russa do século XX de nomes como Joseph Brodsky, Serguei Iessienin, nos autores afroamericanos como Maya Angelou e Cheryl Clarke passeando pela poesia portuguesa de Sophia de Mello Breyner Andresen, no poeta peruano César Vallejo. Possuo certo fascínio pela poesia mineira que vai de Murilo Mendes ao Marcelo Diniz e piauiense com Mário Faustino e Nathan Sousa”, diz o poeta sobre suas referencias literárias.
Para Calixto, lançar um livro no Piauí é tão difícil como “gravar um disco, montar uma peça ou um espetáculo de dança”. “Nem por isso Assis Brasil deixou de ser dos grandes autores piauienses premiados Brasil afora, como o Balé de Teresina ou as telas do senhor Nonato Oliveira e ainda as performances e instalações benquistas internacionalmente do Marcelo Evelin. Mais do que dom, vocação ou similares, é preciso, como diria Milton, ter manha sempre”, dialoga Valciãn Calixto, que além de escritor é compositor, guitarrista de uma banda e integrante de um movimento cultural chamado TrisTherezina, do qual já falamos aqui em O Olho.
FERNANDA PAZ
Os novos escritores piauienses adotaram a produção independente como maneira de facilitar o nascimento de seus filhos, os livros. “É muito comum no nosso estado os escritores lançando seu material de forma independente. Alguns recorrem a editoras de fora que costumam publicar trabalhos de autores iniciantes com um custo menor, como eu fiz. Infelizmente na realidade do nosso estado faltam editoras que acreditem no potencial dos escritores iniciantes, bem como políticas públicas voltadas a essa área”, considera Fernanda Paz, autora de "O Buraco e outras histórias", livro de contos baseados em ocasiões do dia-a-dia.
“Situações cotidianas ou fictícias podem ser repassadas ao público de forma simples e acessível e qualquer um de nós pode ser um personagem principal cheio de dilemas ou loucuras em uma história qualquer”, defende a escritora, que lançou o livro através de uma editora carioca.
Fernanda conta que começou a participar de publicações em 2012. Por volta do ano de 2009 alimentava semanalmente um blog pessoal (chamado Libélula Paz, hoje extinto) com poesias, contos e reflexões. “Também fazia fanzines que circulavam entre grupos de amigos. Entretanto desde criança sempre criava histórias que eram lidas por amigos e familiares”, comenta.
A jovem escritora já participou de diversas coletâneas e versa entre prosa e poesia. “Me inspiro principalmente nas pessoas ao meu redor, as relações entre pessoas, as ações e pensamentos que nos diferencia tanto e ao mesmo tempo nos iguala uns aos outros”, sintetiza Fernanda Paz.
GABRIELA AGUIAR
“Eu escrevo desde pequena, não sei dizer exatamente quando. Minha melhor forma de expressão sempre foi a escrita. Demonstrava o que estava sentindo através de cartinhas e poemas”, confidencia a escritora Gabriela Aguiar, 22 anos, autora de "Joaquim e Silvia, com amor", um romance ficcional que trata da falta de comunicação das pessoas e sobre como isso afeta os relacionamentos.
Em sua segunda publicação, que ainda vai ser lançada, a escritora que fala sobre sertanejos que vivem afastados de centros urbanos, sem água, energia e progressos. “É um livro-reportagem, uma abordagem sobre a história dessas pessoas”, resume Gabriela a obra, intitulada "À Beira da Estrada".
“Tudo inspira. Escrever é você olhar para algo que todo mundo vê e enxergar além. É sensibilidade”, discorre a escritora acrescentando que “a maior dificuldade são os custos, lançar um livro não é barato”.
“E a falta de interesse das pessoas com a literatura piauiense também é um agravante, porque as pessoas não se interessam muito em comprar livros de autores piauienses, elas não valorizam, nem se interessam muito em ir atrás pra saber do que se trata a história”, prossegue a escritora.
Gabriela Aguiar, que é jornalista, conta que escreve mais por paixão “do que qualquer outra coisa”. “Muita gente reclama dos preços também, as pessoas não sabem que lançar livro aqui quase não se tem lucro, o dinheiro das vendas é basicamente para pagar o que foi gasto com a publicação. O Piauí tem muita gente boa e muita gente que escreve bem. Vários livros são lançados por ano, mas poucas pessoas ficam sabendo”, assinala.
DEMÉTRIOS GALVÃO
“Fugindo do espaço escolar, encontrei as bibliotecas públicas do centro da cidade – Biblioteca Abdias Neves, Cromwell de carvalho, SESC Av. Maranhão, Casa da Cultura”, narra o escritor Demétrios Galvão sobre o nascimento de seu interesse pela literatura.
“Nesse primeiro momento, foi o instante de descobertas profundas e de mergulho no campo de possibilidades criativas e sensíveis, que não haviam sido me ensinadas na escola”, acrescenta ele, que ingressou na literatura há 15 anos, lançando poemas em fanzines e livretos que ele mesmo produzia.
Seu primeiro livro, ainda que meio caseiro/artesanal, foi lançado 2001 e intitulado “Cavalo de Tróia”. “Em 2002, participei de um concurso literário, fiquei em terceiro lugar e tive o livro “Fractais Semióticos” publicado pela Fundac (Fundação Cultural do Piauí) em 2005, em um volume juntamente com os autores que ficaram em primeiro e segundo lugar”, relembra Demétrios Galvão, poeta, mestre em história, professor universitário e coeditor da revista Acrobata.
No decorrer de 2011, Demétrios lançou o livro “Insólito”, em parceria com a editora de um amigo poeta e editor de Fortaleza/CE. Ano passado, agora em parceria uma editora paulista, o autor lançou outro volume. “Paguei o livro, mas dividindo as despesas com o editor”, comenta Galvão.
“Para publicar não existe receita pronta. É preciso experimentar, buscar alternativas e não se sujeitar às limitações. Hoje cada vez mais temos opções e editoras independentes abrindo espaços para jovens escritores. O cenário de hoje é bem melhor e mas amplo, do que o de 10 ou 15 anos atrás, quando comecei a escrever”, pondera o escritor, que já pode ser considerado experiente universo editorial.
Demétrios Galvão avalia que as ausências de um circuito editorial aberto e de um público consumidor que sustente o circuito de publicações são as maiores dificuldades enfrentadas por quem pretende se lançar no mercado. “Também não temos um jornalismo cultural e críticos que façam resenhas e comentários do que está sendo publicado. Quando muito, aparece alguém para fazer críticas destrutivas. Mas penso, que aos poucos, nosso cenário está melhorando”, critica o autor de Bifurcações, lançado ano passado.
Demétrios Galvão, Valciãn Calixto, Gabriela Aguiar e Fernanda Paz são apenas quatro representantes da nova leva de autores que oxigena o universo literário no Piauí, terra de conhecidos e anônimos contadores de história.
Fonte: http://noticias.oolho.com.br/noticia/livros-dores-e-delicias-da-nova-safra-de-escritores-piauienses
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