Vocês conhecem a poesia de Conceição Lima? Ela é uma poeta (poetisa deprecia, segundo meu professor) de São Tomé e Príncipe, África.
A título de informação: a África tem cinco países que têm como língua oficial a portuguesa. São Tomé e Príncipe é um deles. Os outros são: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique.
Conceição Lima nasceu em 1961, é natural da ilha São Tomé, onde estudou a escola primária e secundária. Depois obteve o diploma de jornalismo em Portugal. É também licenciada em Estudos Afro-Portugueses e Brasileiros pelo King's College londrino. Possui título de especialização em Governos e Políticas em África e de mestrado em Estudos Africanos, ambos pela School of Oriental and African Studies (SOAS) de Londres. Atuou no rádio e na televisão de São Tomé. Atualmente reside em Londres, onde trabalha na BBC como produtora dos programas de Língua Portuguesa.
Conceição estreou com o livro "O útero da casa", coletânea de poemas (Lisboa: Editora Caminho, 2004). Dois anos depois publicou "A dolorosa raiz do micondó" (Editora Caminho).
A poesia de Conceição Lima se inscreve na temática de resgate do passado seu e, do seu povo, que foi marcado fundamente pela ação colonialista. Por isso, a escritora tem ânsia de contribuir para uma nova humanidade africana, sem esquecer jamais das raízes do seu povo e sem esquecer as gerações responsáveis pela independência de seu país, bem como de todas as ex-colônias africanas.
Mátria
Quero-me desperta
se ao útero retorno
para tactear a diurnal penumbra
das paredes
na pele dos dedos reviver a maciez
dos dias subterrâneos
os momentos idos
Creio nesta amplidão
de praia talvez ou de deserto
creio na insônia que verga
este teatro de sombras
E se me interrogo
é para te explicar
riacho de dor cascata de fúria
pois a chuva demora e o obô entristece
ao meio-dia
Não lastimo a morte dos imbondeiros
a Praça viúva de chilreios e risonhos dedos
Um degrau de basalto emerge do mar
e nas danças das trepadeiras reabito
o teu corpo
templo mátrio
meu castelo melancólico
de tábuas rijas e de prumos.
(LIMA, 2004, p. 17-18)
Conceição Lima coloca no eu lírico um sentimento pátrio que se revela por meio de metáforas, como, por exemplo: A África é a Casa, a Mátria, o templo sagrado, o castelo de tabuas rígidas. É, portanto, uma exaltação à sua terra.
Ainda em sua poesia, há um tom de reverência aos heróis de guerra, os mártires que se sacrificaram por uma África livre. Conceição também conclama aos seus irmãos africanos que não esqueçam seu passado e sua cultura.
Os heróis
Na raiz da praça
sob o mastro
ossos visíveis, severos, palpitam.
Pássaros em pânico derrubam trombetas
recuam em silêncio as estátuas
para paisagem longínquas.
Os mortos que morreram sem perguntas
regressam devagar de olhos abertos
indagando por sua asas crucificadas.
(LIMA, 2004, p.23)
A poesia de Conceição Lima é considerada insubmissa, pois expressa repulsa ao colonialismo e o acusa de ser a raiz das misérias que assolam a África.
A poesia de Conceição Lima se inscreve junto àqueles que também produziram a chamada poesia combativa, uma poesia que prega os valores da negritude, como: Alda do Espírito Santo, Amílcar Cabral, Noêmia de Souza e outros mais. Todos que fizeram ou fazem de sua arte um grito contra o opressor.
Referências
PONTES, Roberto. Conceição Lima e a poesia na pós-independência em São Tomé.
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