Escrito por Alexey Dodsworth, a obra conta a história de uma descoberta astronômica sem precedentes
Luana Brasil - Especial para o Correio
Publicação: 01/04/2014 08:18 Atualização: 01/04/2014 08:46
No livro, Dodsworth descreve as fantasiosas possibilidades de vida em HR6060 |
A
pergunta que perpassa a vida de todos os humanos — se estamos sós no
Universo — delineia a narrativa do romance de estreia do pesquisador
Alexey Dodsworth no campo da ficção científica. Dezoito de escorpião
conta a história de uma descoberta astronômica sem precedentes. Em
1997, um astrônomo brasileiro identificou uma estrela gêmea absoluta do
Sol, na longínqua Constelação de Escorpião. Algo muito raro, pois o Sol
tem muitas irmãs gêmeas, mas nenhuma tão plena.
A estrela HR 6060, apelidada Dezoito de escorpião, tem a mesma cor, a mesma temperatura, a mesma idade que a Terra. “Se um deus trapaceiro a trocasse pelo nosso Sol, ninguém perceberia a diferença”, explica. É a partir desse dado científico, que Dodsworth descreve as fantasiosas possibilidades de vida em HR6060, fazendo uma intensa aposta no caráter imanente da vida no Universo, isto é, que ela é uma consequência necessária e indissociável de condições específicas. Em paralelo, o romance trata de uma comunidade alternativa, um experimento social que reúne jovens diagnosticados com esquizofrenia.
Oscilando no tempo, entre 1929 e 2070, o leitor é apresentado a fatos científicos, reconstruídos ficcionalmente. Trata-se de um livro que demanda muita atenção, pois o tempo não se segue de forma linear, e as referências a descobertas e conceitos da ciência são constantes, como é característico no gênero Hard Sci-Fi de literatura.
Trecho do livro Dezoito de Escorpião
Seria impossível ignorar a beleza das constelações vistas a partir de Cerro Tololo. Sem a tão comum poluição luminosa dos grandes centros urbanos, o céu do interior chileno seria capaz de emocionar a menos sensível das almas. Bastaria olhar para cima por alguns minutos e se deleitar com a generosa luz das estrelas. Antares, já normalmente exuberante em brilho a ponto de rivalizar com o planeta Marte, em Cerro Tololo chegava a parecer um distante farol avermelhado. Todavia, a despeito da presença de tantos astros cintilantes e chamativos, o que realmente interessava a Gustavo era um corpo estelar insignificante e quase invisível a olho nu, conhecido pelo insosso nome de HR 6060. Seu brilho aparente era tão fraco que fazia essa estrela sequer ser digna de um nome próprio mais especial e marcante, como nos casos das famosas Antares, Aldebaran, Capella, Sirius ou Vega. HR 6060 era apenas mais uma estrela dentre as tantas outras da Constelação do Escorpião, e apenas a décima-oitava em brilho. Para ser vista a olho nu, seria necessário ir para um lugar bem afastado das luzes da cidade, como no caso de Cerro Tololo, além de ter visão perfeita. Ou usar binóculos. Sob diversos aspectos, a palidez daquele astro era incapaz de inspirar poetas ou instigar mitologias.
Não havia lendas e cânticos em torno de HR 6060.
Mas Gustavo possuía uma vantagem que o distinguia da maioria das pessoas: seu ofício lhe permitia usar olhos mecânicos capazes de revelar algo que fazia aquele brilho irrisório ser mais espetacular que Antares e mais digno de atenção que a brilhante Sirius. Considerando o que a ciência lhe permitia constatar, HR 6060 talvez fosse uma das mais importantes luzes do céu noturno.
A estrela HR 6060, apelidada Dezoito de escorpião, tem a mesma cor, a mesma temperatura, a mesma idade que a Terra. “Se um deus trapaceiro a trocasse pelo nosso Sol, ninguém perceberia a diferença”, explica. É a partir desse dado científico, que Dodsworth descreve as fantasiosas possibilidades de vida em HR6060, fazendo uma intensa aposta no caráter imanente da vida no Universo, isto é, que ela é uma consequência necessária e indissociável de condições específicas. Em paralelo, o romance trata de uma comunidade alternativa, um experimento social que reúne jovens diagnosticados com esquizofrenia.
Oscilando no tempo, entre 1929 e 2070, o leitor é apresentado a fatos científicos, reconstruídos ficcionalmente. Trata-se de um livro que demanda muita atenção, pois o tempo não se segue de forma linear, e as referências a descobertas e conceitos da ciência são constantes, como é característico no gênero Hard Sci-Fi de literatura.
Trecho do livro Dezoito de Escorpião
Seria impossível ignorar a beleza das constelações vistas a partir de Cerro Tololo. Sem a tão comum poluição luminosa dos grandes centros urbanos, o céu do interior chileno seria capaz de emocionar a menos sensível das almas. Bastaria olhar para cima por alguns minutos e se deleitar com a generosa luz das estrelas. Antares, já normalmente exuberante em brilho a ponto de rivalizar com o planeta Marte, em Cerro Tololo chegava a parecer um distante farol avermelhado. Todavia, a despeito da presença de tantos astros cintilantes e chamativos, o que realmente interessava a Gustavo era um corpo estelar insignificante e quase invisível a olho nu, conhecido pelo insosso nome de HR 6060. Seu brilho aparente era tão fraco que fazia essa estrela sequer ser digna de um nome próprio mais especial e marcante, como nos casos das famosas Antares, Aldebaran, Capella, Sirius ou Vega. HR 6060 era apenas mais uma estrela dentre as tantas outras da Constelação do Escorpião, e apenas a décima-oitava em brilho. Para ser vista a olho nu, seria necessário ir para um lugar bem afastado das luzes da cidade, como no caso de Cerro Tololo, além de ter visão perfeita. Ou usar binóculos. Sob diversos aspectos, a palidez daquele astro era incapaz de inspirar poetas ou instigar mitologias.
Não havia lendas e cânticos em torno de HR 6060.
Mas Gustavo possuía uma vantagem que o distinguia da maioria das pessoas: seu ofício lhe permitia usar olhos mecânicos capazes de revelar algo que fazia aquele brilho irrisório ser mais espetacular que Antares e mais digno de atenção que a brilhante Sirius. Considerando o que a ciência lhe permitia constatar, HR 6060 talvez fosse uma das mais importantes luzes do céu noturno.
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