Thursday, February 05, 2009

Elegia a Gaia


Por Ronaldo Alves Mousinho

Trazemos em nossa memória ancestral saudosa imagem paradisíaca de Hiléia, onde prados verdejantes e águas cristalinas abundantes se espraiavam a perderem-se de vista, e onde a fauna vivia em plenitude alimentar e o homem ocupava o seu espaço em vida sadia e generosa.
Isto principiou depois que o caos original vibrou seus primeiros acordes no grande concerto para despertar o cosmos, radiou a energia cosmogênese e concebeu Gaia, generosa e diversa, a nossa mãe-terra, vivificante, para nela habitarmos e nos desenvolvermos em felicidade plena.
A vida é a unidade na diversidade dos opostos: o transitório, o duradouro; o amor, o ódio. Mas há um ponto de confluência que tangencia as duas realidades, o incognoscível, que é o terceiro elemento, e que embora escape à nossa observação, é real e conhecido, como por exemplo a saudade, Deus, o amor, etc, ocupa a dimensão do mistério que dá emoção à vida. E ninguém chega ao espírito, sem usar bem os sentidos, e, sem afetividade não há efetividade na justiça (Min. Carlos Aires). A diversidade é que traz o equilíbrio e o desenvolvimento e quando uma célula quer prevalecer sobre as outras, ao desenvolver-se mais que as parceiras, transforma-se em câncer (Monge Shôjo Sato).
O homem se auto-supera nas descobertas científicas, nos avanços tecnológicos, mas põe em risco sua sobrevivência no planeta, quando o agride nos setores vitais de sua existência.
Vivemos um momento crítico do Planeta Terra, no que respeito à relação do homem com a natureza.
O que já foi, particularmente aqui no Brasil, há 500 anos, o paraíso terreno, constata-se estarrecido o quanto é destrutiva e irracional a nossa atitude. Em nome de um pseudo-conforto e progresso tecnológico, talvez já tenhamos iniciado uma viagem irreversível ao caos, principalmente porque o maior bem vital – a água, está sendo envenenada, e o pouco que nos resta, continua a ser, irresponsavelmente.
De repente, o clima começa a ferver o planeta, numa rapidez pavorosa, conseqüência do desmatamento predador, das ocupações urbanas irresponsáveis, pela permissividade dos nossos dirigentes. Grandes extensões de terras brasileiras estão inutilizadas pelo processo de desertificação, vítimas de agricultura predatória. O excesso de automóveis, rugindo e soltando veneno, a cada dia mais contaminando nosso já pesado oxigênio, estressando o homem e levando-o as raias da irracionalidade. E um cortejo robotizado, enfurecido pelo caos, dirigindo com violência, total intolerância e imprudência. E a impotência do governo aqui também hiberna, não humaniza o transporte público, de massa, e a vaidade humana, no afã de ter individualmente um automóvel, de preferência novo e de maior potência, vai agigantando a frota urbana e com ela, a loucura e a vertical queda da qualidade de vida.
A Eco 92, era uma esperança para conter a agressão destrutiva do planeta pelo homem, porém, os maiores protagonistas do caos ambiental (USA, China e Rússia), em nome de uma economia suicida e do poder beligerante, negaram-se a apoiar o Acordo de Kioto.
A fome e o estado de miséria planetário alcançou índices alarmantes, e a causa maior é a desumana concentração de renda que se encontra nas mãos de apenas 2% da população mundial.
Aqui em Brasília, à época do inverno, a umidade torna-se desértica e o sol já nos queima a pele. Banqueiros e grandes empreiteiros da construção civil continuam financiando eleição de nossos presidentes, tornando-os reféns de seus interesses nem um pouco humanitários.
A política tornou-se totalitária, autogestora, concedendo amplos privilégios a seus agentes que se colocam acima da lei. Degenerou-se, tornando-se inútil para a sociedade.
O pouco cerrado existente sobre o solo mineiro está sendo devorado pelas milhares de carvoarias, e o jovem governador daquele estado, a cada dia se mostra mais radiante de satisfação: sua vida política vai ótima e ele já se ver presidente da República.
Brasília acaba de sediar o 1º Fórum Espiritual Mundial, tematizado no que se poderia desejar de mais urgente e oportuno para a crise de consciência que vivenciamos no planeta: “Valorizando a diversidade para a construção de uma solidariedade planetária” promovido pela União Planetária, pela URI-União das religiões unidas e pela UNIPAS- Universidade Holística Nacional, sediada em Brasília.
Do grande tema acima, explanaram-se os subtemas: “A Construção de uma Sociedade Planetária”, A Responsabilidade das Elites na Construção de uma Sociedade Solidária, Educação de Valores, Mundialização e Justiça Social, A Realização da Divindade no ser Humano, A Responsabilidade Individual na Construção de um Mundo de Paz, Política e Humanismo, Ética nas Relações Humanas. Bioética, Diálogo entre as Religiões para a Paz Mundial, Virtudes para um outro Mundo Possível, O Papel da Psicologia Transpessoal, Direitos Humanos, A Fraternidade Universal, O Papel das Tradições na Construção de um Mundo de Paz, A Economia a Serviço da Justiça Social, A Ética do Cuidado, O Papel da Mídia na Construção de um Mundo Solidário, Visão Humanista da Vida: Percepção da Interdependência, A Conciliação como Instrumento para a Paz Mundial, Gaia – A Harmonia do Cosmo, A Humanização do Direito e a Unidade da Vida.
Aquele importante Fórum trouxe esclarecimentos e reflexões tocaram o sentimento, abrindo janelas para uma compreensão mais clara da humanidade desde que habita o planeta e como tem se comportado como usuária da Gaia-mãe, que tudo oferece.
Os valores espirituais, éticos e morais devem ser utilizados por todos, pois a vida é o que dela fazemos, e a humildade, o perdão e a tolerância trazem-nos o céu que ansiamos,
enquanto a intolerância e a violência têm nos dado o inferno que vivenciamos. Solidariedade é tornar sólido. É hora de o poderoso e o humilde darem-se as mãos, convictos que serem oriundos de uma mesma matriz e com objetivos comuns nessa breve viagem como matéria humana. Devem urgentemente buscar a paz, cuja arma é a confiança e o amor (Alexandre Rosenval e Pierre Weil). O materialismo deve estar mais no deslumbramento humano com a arte que com o material nu e cru. A utopia da felicidade humana foi corrompida pelo avanço técnico-financeiro. Há que libertá-la desse poder há muito desumanizado e instituir uma educação universal e contínua (Sen. Cristóvam Buarque). A fé tem sido desvirtuada, a partir do momento em que o homem substituiu a religiosidade pelas religiões e as institucionalizaram, afastando-as do espiritual. A fé não pode ser segregada, senão dividirá e seu propósito último é o de unir.(André Porto).
O homem insensato, que infelizmente tem exercido maior influência no destino das massas, há muito desprezou sua natureza inteligível para agir com a natureza irascível ou arrogante, e a natureza petitiva e inferior, centrada na ganância e na cobiça. Tornou-se escravo de si mesmo, deixou-se governar pela insensatez, ignorância e corrupção, prejudicando a si e aos demais indivíduos (Platão). Escravo de suas próprias contradições por não compreender a si mesmo (autoconhecimento), que é sabedoria, é desprovido de harmonia individual.
É, pois, hora de revermos o principio basilar socrático: Homem: conhece-te a ti mesmo! e entregarmo-nos a uma esperança última de sensibilização e conscientização, ante tão grave momento.

No comments: