Tuesday, November 25, 2008

Convite: Oleografias de Arlindo Castro e Poemas de Donaldo Mello

Da nossa aldeia

As panelas areadas
na beira do rio.

Areia fininha, esfregada
com pano velho no

alumínio da velha
frigideira fritadeira:

das sardinhas, dos pacus;
refletindo o intenso sol

amazônico; as panelas
reluzentes penduradas

na parede da cozinha
da casa humilde ribeirinha,

amazônica, reluzindo uma
espécie de estante de troféus.

Condecorações alinhadas
traduzindo: pobreza, paciência, des-treza.

A pureza da alma amazônica,
refletida no desvelar da fuligem

retirada com esmero delicado
pelas mãos ciosas das mulheres.

Mães laboriosas, dos filhos
desterrados a ouvi-las à distância

no canto sagrado da nostalgia
de um tempo do verde e das águas.

Na beira do rio as panelas
areadas a brilhar, a brilhar

a brilhar, além! Lá bem...
“Nostalgia do mais”: “paixão do infinito”.

Poema de Donaldo Mello dedicado ao amazônida Arlindo Castro, artista residente em Brasília.

Memórias dum hiperbóreo


Convite para o coquetel de lançamento do meu livro “Memórias dum hiperbóreo” a realizar-se no dia 06 de dezembro, sábado, a partir das 17 horas na Livraria Cultura (CasaPark Shopping Center / SGCV - Sul, Lote 22, Loja 4-A / Zona Industrial / Guará).

Ode a Brasília.

Brasília...
Cidade festiva, cidade tristonha,
cidade de siglas e algarismos,
de pleitos, escândalos e portarias,
tulipa de ferro plantada no meu coração.

Brasília...
Cidade sem raça, morena e branca,
cidade dos grandes chefões e pequenos ciclistas,
em cujo falar misturou-se o “erre” do Sul com o “tê” nordestino,
cidade de sonhos e pesadelos,
cidade da gente.

Vós fostes severa comigo, Brasília:
brigastes por nada,
servistes-me pratos azedos,
fizestes com que me sentisse bastardo
no meio dos filhos legítimos vossos,
porém não untastes com fel minhas falas baldias!

Quem sois para mim:
a menina que vende paçoca nas ruas;
a moça gastando três contos na ida pro Plano,
três contos na volta dali;
a mulher, cuja vida seria um filme francês,
se não fosse verdade?
Quem sois: minha prima, irmã ou madrasta?
Não sei, realmente não sei;
moraria em outro lugar, se soubesse!

Quem sou para vós:
forasteiro sem eira nem beira,
bichinho exótico,
homem que, lendo o “Correio”, não perde frieza,
caçula que tanto amais?
Não sabeis...
Se soubésseis,
talvez me tivésseis tratado de outra maneira,
mais branda e menos sincera.

Então, somos quites, Brasília,
cidade alheia, cidade querida,
pois, feitas as contas,
merece favores mundanos e graças divinas
quem anda descalço por pedras em gume;
aqueles que usam coturnos, pisando o capim, desmerecem.
E pelo rigor com o qual me curastes de vãs ilusões,
ensinando o moral dos pioneiros,
eu fico-vos grato, Brasília,
meu duro amor!

Oleg Almeida.
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/oleg_almeida.html

Monday, November 17, 2008

Lançamento de “Staub und Schotter” – de Marcos Freitas.


Em comemoração aos cinco anos de lançamento de seu primeiro livro “A Vida Sente a Si Mesma” (Ed. Gráfica Ibiapina, Teresina, 2003) e ao ingresso do autor na Associação Nacional de Escritores – ANE, este ano, o poeta Marcos Freitas e a Editora CBJE têm o prazer de convidar-lhe para o lançamento de seu oitavo livro de literatura “Staub und Schotter: Der Wind des Frühlings & die Brise des Herbstes”, uma coletânea de poemas escritos em diversas línguas, durante a estadia de seu autor no exterior (1991 a 1996), na Livraria Café com Letras, em Brasília – DF, no dia 18 de novembro (terça-feira).

Programação:

19h30 às 20h: Inquietudes de Horas e Flores – Declamação e leitura de poemas dos três mais recentes livros “quase um dia” (Ed. CBJE, Rio de Janeiro, 2006; ilustrações de Manoela Afonso), “na curva de um rio, mungubas” (Ed. CBJE, Rio de Janeiro, 2006; prefácio de Fred Maia e ilustrações de Manoela Afonso) e “raia-me fundo o sonho tua fala” (Ed. CBJE, Rio de Janeiro, 2007; ilustrações de Manoela Afonso), pelo autor e pela poeta Cristina Bastos.

20h às 20h30: Apresentação da BandANA – Grupo musical dos servidores da Agência Nacional de Águas - ANA, com os músicos: Márcio Bomfim (voz e violão), Paulo Breno Silveira (violão), Paulo Spolidório (violino), Herbert Cardoso (cavaquinho), Maurrem (percussão) e Marcos Freitas (percussão).

20h30 às 21h: Grupo de Choro – Herbert Cardoso, Dionísio Mizziara e Eurico.

21h às 21:15h: Apresentação do livro Staub und Schotter pelo engenheiro, contista e tradutor Antonio Cardoso Neto, autor do prefácio.

21h15 às 21h40: Leitura dos poemas do novo livro, em alemão, inglês, espanhol, italiano, francês, tcheco e português, pelo autor e revisores presentes: Antonio Cardoso Neto, Paulo Breno Silveira, Laura Tillmann, Sigga Glitz, Ariel Mera, Patrícia Rizzotto e Carlos Saiz.

21h40 às 23h: Roda de Poesia com o Coletivo de Poetas (Menezes y Morais, José Edson, Jorge Amâncio, Ivan Monteiro, Teodoro Gontijo, Marco Polo, Cristina Bastos, dentre outros), com Márcio Bomfim (voz e violão). Sessão de Autógrafos.

Distribuição do libreto “Micro-Antologia - Marcos Freitas”, Série Escritores Brasileiros Contemporâneos, nº 44, O Livro na Rua, Editora Thesaurus, Brasília – DF, 2008.

Serviços:

Livraria Café com Letras
SCLS 203 Sul – Bloco C, loja 19
Brasília – DF
Entrada Gratuita

Livro:

Staub und Schotter: Der Wind des Frühlings & die Brise des Herbstes
Ed. CBJE, Rio de Janeiro, 92p, 2008.
ISBN: 980-85-7810-223-4

Filmes vencedores do 10º FICA - Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental


Epidemia do cigarro e veneno mortal são os capítulos da melhor série ambiental de TV (Dinamarca, 2006) e melhor filme na opinião do público (diretor Jakob Gottshau). O batizado "Lições tardias para avisos antecipados" abre a mostra dos sete filmes vencedores do 10º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) de Goiás, que acontecerá no Centro Cultural de Brasília (CCB) nos dias 20 e 21 de novembro deste ano.

Com início às 16 horas, a programação traz filmes que documentam, além do tabagismo, a reciclagem de lixo urbano, as multinacionais de petróleo, a extração de madeira, a sabedoria popular, as transformações urbanas, e até insetos.

São temáticas variadas que fazem o expectador olhar para o meio ambiente, cidades, zonas rurais etc. e analisar por outros ângulos a participação humana nos diversos contextos.

A iniciativa do CCB, segundo Tânia Castro, coordenadora da mostra, tem o objetivo de compartilhar com a comunidade brasiliense obras com valor estético, e, principalmente, com conteúdo relevante nos dias de hoje. "Falar sobre meio ambiente, sobre questões sócio-ambientais e transformações urbanas é urgente em nossa sociedade. O FICA é um projeto de qualidade e os filmes da mostra bastante adequados, que nos ajudam a refletir sobre essas questões importantíssimas hoje em dia.

Oportunidade essa, diga-se, não só para aqueles que admiram a sétima arte ou curtem a linguagem audiovisual, pois os filmes são indicados para todos os públicos.

Além disso, durante os dois dias de mostra, o professor David Lionel Pennington (do curso de Cinema e Vídeo da Faculdade de Comunicação da UnB) falará sobre Cinema e Meio Ambiente tecendo seus comentários sobre os filmes exibidos.

Os selecionados são: Lições tardias para avisos antecipados (melhor série ambiental de TV e melhor filme na opinião do público), Subpapéis (melhor produção goiana), Delta, o jogo sujo do petróleo (melhor longa metragem), Batida na floresta (melhor média metragem e troféu imprensa), Benzeduras (melhor produção goiana), Zona de diluição inicial (melhor curta-metragem), Jaglavak, príncipe dos insetos (melhor obra do festival).

A entrada é franca e o CCB fica na 601 norte. Lembrando que a Sala Loyola tem capacidade para 250 pessoas.

Mais informações: Tânia Castro 8455.4762
Site http://www.ccbnet.org.br/
Endereço: L 2 Norte 601 - Asa Norte - Brasília/DF
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PROGRAMAÇÃO
20/11 – Quinta-feira

16h00 – Apresentação do FICA
16h10 – Lições tardias para avisos antecipados
Melhor série ambiental de TV e melhor filme na opinião do público
Diretor: Jakob Gottshau
Dinamarca – 58min. – série televisiva 2006
1° capítulo: Epidemia do cigarro – 29min.
2° capítulo: Veneno mortal – 29min.
20h00 – Apresentação do FICA
20h10 – Comentarista Convidado: David Lyonel Pennington (Professor Adjunto do Curso de Cinema e Vídeo da Faculdade de Comunicação da UnB)
20h30 – Subpapéis
Melhor produção goiana
Diretor: Luiz Eduardo Jorge
Brasil (GO) – 18min – documentário 2007

20h50 – Delta, o jogo sujo do petróleo
Melhor longa metragem
Diretor: Yorgos Avgeropoulos
Grécia – 64min – documentário 2006

21/11 – Sexta-feira

16h00 – Apresentação do FICA
16h15 – Batida na floresta
Melhor média metragem e troféu imprensa
Diretor: Adrian Cowell
Reino Unido/Brasil – 58min30seg – documentário 2006
18h30 – Benzeduras
Melhor produção goiana
Diretor: Adriana Rodrigues
Brasil (GO) – 72min04seg – documentário 2007
20h00 – Apresentação do FICA
20h10 – Comentarista Convidado: David Lyonel Pennington (Professor Adjunto do Curso de Cinema e Vídeo da Faculdade de Comunicação da UnB)
20h30 – Zona de diluição inicial
Melhor curta-metragem
Diretor: Antoine Boutet
França – 30min. – documentário 2006
21h – Jaglavak, príncipe dos insetos
Melhor obra do festival
Diretor: Jérôme Raynaud
França – 52min. – documentário 2006
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Sinopses dos filmes

Lições Tardias para Avisos Antecipados
Epidemia do cigarro – 1º capítulo
Veneno Mortal – 2º capítulo
Série de TV, 58min, 2006, direção: Jakob Gottschau – Dinamarca.
Contato: jg@express-tv.dk

Os efeitos nocivos do tabagismo e das aplicações do PCB (biferil policlorado) para a saúde humana e o meio ambiente. As lições dadas pelos desastres e/ou incidentes, as conseqüências dos males que foram previstos e que poderiam ter sido evitados. Em dois capítulos.

Subpapéis
Documentário, 18min, 2007, direção: Luiz Eduardo Jorge – Goiás; Brasil.
Contato: lejorge@ucg.br

Um mergulho nas profundezas da reciclagem do lixo urbano. As contradições existentes no trabalho dos catadores de lixo. Mão-de-obra explorada, muitas vezes em condições desumanas é, ao mesmo tempo, responsável pelo resgate ambiental de matérias que retornam à vida do consumo.

Delta, O Jogo Sujo do Petróleo
Documentário, 64min, 2006, direção: Yorgos Avgeropoulos – Grécia.
Contato: info@smallplanet.gr

No delta do rio Niger, na Nigéria, de onde é extraída grande parte do petróleo mundial, ataques de bombas, seqüestros e assassinatos fazem parte da rotina diária. Vazamentos de óleo no rio destroem flora e fauna, envenenam a cadeia alimentar e, conseqüentemente, ameaçam a existência dos 27 milhões de habitantes naturais da região. O documentário mostra como as gigantescas companhias multinacionais de petróleo definem a imagem do "progresso", enquanto a população ousa exigir o óbvio: o fim dessa situação.

Batida na Floresta
Documentário, 58min 30seg, 2006, direção: Adrian Cowell – Reino Unido / Brasil.
Contato: nomadfilms@tiscali.co.uk

Os conflitos gerados pela exigência de licenciamento para extração de madeira no Vale do Guaporé, em Rondônia. Madeireiros e fazendeiros ilegais, apoiados por políticos locais, nem de longe têm qualquer nível de consciência sobre o processo de aquecimento global, causado em parte pelas derrubadas e queimadas da Amazônia. Equipes de fiscalização tentam colocar um pouco de ordem e lei no lugar.

Benzeduras
Documentário, 72min 04seg, 2007, direção: Adriana Rodrigues – Goiás; Brasil.
Contato: floprojetos@uol.com.br

O importante papel dos benzedores em cidades do interior goiano está em processo de extinção. Um ofício que se baseia entre o sagrado e a sabedoria popular para a cura de doenças. O documentário aborda o que é, como se dá e o papel na cura do ato de benzer, sob o olhar de vários benzedores.

Zona de Diluição Inicial
Documentário, 30min, 2006, direção: Antoine Boutet – França.
Contato: dardard@club-internet.fr

As transformações urbanas causadas pela construção da maior represa do mundo na região das Três Gargantas na China. O estado das margens, das cidades e vilas situadas no rio Yang Tsé, antes do término da construção (previsão 2008), desde aquelas em ruínas ou desaparecidas até as que experimentam uma grande expansão econômica. As conseqüências que a represa trará ao meio ambiente e às populações locais quando as águas finalmente atingirem seu nível mais alto.

Jaglavak, Príncipe dos Insetos
Documentário, 52min, 2006, direção: Jeróme Raynaud – França.
Contato: xinyin@zed.fr

Nas montanhas do norte da República dos Camarões, os Mofu vivem uma relação peculiar com os insetos, dividindo com eles suas casas e colheitas. Neste ano, no entanto, uma terrível seca atinge a região, e os cupins deixam os campos para invadir as cabanas e celeiros. Para combatê-los, o povo Mofu costuma chamar Jaglavak, uma feroz formiga guerreira (formiga de correição). Ela é protegida por uma grossa carapaça e armada com aterradoras pinças que cortam, rasgam e atravessam qualquer coisa que caia vítima da sua voracidade! Se o príncipe dos insetos responder às preces tradicionais, é melhor os cupins, em suas fortalezas de lama, tomarem muito cuidado!

Friday, November 14, 2008

Coletivo de Poetas e Carlinhos Piauí na Barca Brasília

Barca Poética em fim de semana de lua cheia

Experimente participar de um passeio diferente, original, elegante, em um ambiente acolhedor, informal, onde você se encontra com a poesia, a música e sai de lá com novos amigos e muitas recordações. Para seu conforto, a Barca Brasília está abrigada das intempéries do tempo como chuva e vento. Para a sua segurança, a Barca Brasília possui os mais modernos recursos exigidos pela Marinha do Brasil para transporte de passageiros. Para sua satisfação nós temos uma equipe preparada para lhe receber da melhor maneira possível. Traga seus amigos e familiares. Estamos esperando por você!

Fim de semana de lua cheia, 15 e 16 de novembro, a dica é o projeto Barca Poética. O Coletivo de Poetas realiza um sarau náutico no Lago Paranoá a bordo da Barca Brasília. No comando, os poetas convidados Cristina Bastos, Carlos Augusto Cacá, Hilan Bensusan, Menezes y Morais, Carlinhos Piauí e a participação especial do jornalista e escritor Fernando Pinto, que relança o livro Memórias de Um Repórter, como direito a minipalestra.

A roda de leitura será dedicada aos poetas Hilda Hist e Manoel de Barros. Os passageiros também podem participar se utilizando dos "Poemas Salva-Vidas" aqueles trabalhos autorais ou de outros poetas preferidos. O cantor e compositor Carlinhos Piauí, que já ganhou prêmio do Ministério da Cultura pelo projeto Caravana Cantadores das Águas, no qual percorreu cidades ribeirinhas do Piauí mostrando seu trabalho carregado de regionalismo, também se fará presente com um repertório que contemplará música de raiz, ciranda, aboio, poesias e literatura de cordel.

A Barca Brasília garante, com sua equipe, segurança, conforto e um atendimento personalizado. Vale participar!

SERVIÇO

Barca Poética com Coletivo de Poetas na Lua Cheia
15 e 16 de novembro – sábado e domingo.
Saída da Barca: 17h com retorno às 20h30
Cais do Bay Park Hotel: SHTN Trecho 02 Lote 05
Valor do passeio: R$ 40,00, desconto 25% = R$30,00 por pessoa
Couvert artístico: R$ 10,00
Consumo de alimentos e bebidas à parte.
Reservas e informações:
www.barcabrasilia.com.br
passeio@barcabrasilia.com.br
Fones: 8419-7192 (Edmilson Figueiredo) e 8432-6234 (Amon Trajano).

COLETIVO DE POETAS E CARLINHOS PIAUÍ NA BARCA BRASÍLIA

O sarau do Coletivo de Poetas neste final de semana (15 e 16) na Barca Brasília com os poetas convidados, terá a participação especial do jornalista e escritor Fernando Pinto, que relança o livro Memórias de Um Repórter e faz minipalestra.

Além de seus integrantes recitarem poemas próprios, o Coletivo de Poetas vai homenagear os poetas Hilda Hilst (1930-2004) e Manoel de Barros, com rodas de leituras. O cantor e compositor Carlinhos Piauí mostrará composições proprias. A platéia também será será convidada a participar, com o Poema Salva-Vida, recitando trabalhos próprios ou de outros autores.

Cristina Bastos é mineira de Urbelândia que escolheu Brasília para viver. Compartilha o talento poético com a fotografia. É autora dos livros Decerto o Deserto e Teia.

Carlos Augusto Cacá é servidor público. Formado em sociologia, divide a poesia com o trabalho de coordenação da Tribo da Artes. É autor de Fadas Guerreiras.

Carlinhos Piauí é cantor, compositor e produtor cultural. Gravou, entre outros, os CDs independentes Estradas e Terreiros, e Conterrâneos, todos esgotados. Atualmente coordena o Sarau da Asefe - Associação dos Servidores da Fundação Educacional.

Hilan Bensusan é poeta e filósofo. Autor de três livos, entre os quais Excessos e Exceções, por uma ontologia sem cabimento, que estará autografando. Doutor em filosofia pela universidade de Sussex, Inglaterra, trabalha no Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília.

Menezes y Morais é jornalista, professor e escritor. Tem 10 livros publicados, entre os quais, Por Favor, Dirija-se a Outro Guichê (teatro) e Na Micropiscina da Lágrima Feliz (poesia).

Fernando Pinto, escritor e jornalista aposentado, trabalhou em jornais do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília-DF. Ex- correspondente de guerra, recebeu vários prêmios por suas reportagens. Tem oito livros publicados, entre os quais Os 7 Pecados da Juventude Sem Amor (3ª edição) e A Menina Que Comeu Césio (reportagem sobre a tragédia de Goiânia, que virou livro). FP fará minipalestra sobre as dificuldades que o jornalista encontra no exercício da profissão.

Friday, November 07, 2008

Teatro Experimental do SESC Amazonas (TESC) comemora 40 anos

A CAIXA Cultural Brasília abre suas portas para um dos mais importantes e atuantes grupos de teatro do país. O Teatro Experimental do SESC Amazonas (TESC) comemora 40 anos de palco presenteando o público brasileiro com três espetáculos. A Paixão de Ajuricaba (dias 04 e 05), As Mil e Uma Noites (06 a 09) e A Maravilhosa História do Sapo Tarô-Bequê (08 e 09).
Criado em Manaus em 1968, o Teatro Experimental do SESC Amazonas é dirigido pelo escritor e dramaturgo amazonense Márcio Souza, autor de romances como Galvez, Imperador do Acre, Mad Maria e Revolta. Índios, mitos, humor, sarcasmo e uma imensa região supostamente sem história formam os campos de trabalho do grupo. O TESC monta seus espetáculos a partir de duas linhas de pesquisa: uma voltada para uma visão crítica do processo histórico da região amazônica; e outra que leva ao palco o universo dos povos indígenas amazônicos.
Para a comemoração de seus 40 anos, o TESC traz a Brasília três encenações que exemplificam bem suas vertentes de pesquisa. Nos dias 04 e 05, a partir das 20h, o público brasiliense conhecerá A Paixão de Ajuricaba, peça que marcou a volta do grupo depois de um hiato de 11 anos. De 06 a 09, também às 20h, Márcio Souza transporta os dramas de Sherazad para o século XXI, na sua versão de As Mil e Uma Noites. Para a criançada, o TESC encena nos dias 08 e 09, em uma sessão matinê, às 16h, A Maravilhosa História do Sapo Tarô-Bequê.
Críticos de arte como Jefferson Del Rios, Fernando Peixoto, Luíza Barreto Leite, Bárbara Heliodora, Lan Michalski, Maczsen Luiz, entre outros, já discutiram e aplaudiram o desempenho do TESC pelo Brasil.

A Paixão de Ajuricaba
Dias 04 e 05, às 20h

Ajuricaba ou o espírito heróico do povo amazonense foi a maior personalidade indígena da história da Amazônia. Como aruaque, exerceu em mais alto grau um dos talentos de sua cultura: a arte da diplomacia para unir as diversas tribos sob uma confederação tribal. A clareza com que sabia distinguir os diversos europeus que começavam a entrar em seu território ajudou muito no êxito inicial do levante de Ajuricaba.
Foram cinco anos de combates contra os portugueses até que Ajuricaba foi preso. Quando seria transportado para Belém com outros guerreiros, o grande líder manau fez o gesto que lhe renderia lugar na História e no coração do povo da Amazônia: pulou da canoa em busca da liberdade. Aos 21 anos, Ajuricaba desapareceu no mar libertando-se dos grilhões e ressuscitando como símbolo de coragem.
Duração: 65 minutos.

As Mil e Uma Noites
De 06 a 09, às 20h

Nos tempos da dinastia bassanida, o sultão Shariar reinava em Bagdá. Um dia, ao voltar mais cedo da caça, Shariar flagrou sua mulher nos braços de um escravo. Matou os dois e decidiu que, a partir daquele dia, se casaria com uma menina virgem e mandaria executá-la ao amanhecer. Depois de quase dois anos e com a cidade de Bagdá despovoada de garotas virgens, Sherazad, filha do Grão-Vizir, decide se casar com o monarca assassino. Apaixonada pelo jovem e belo sultão, Sherazad, com a cumplicidade de uma irmã mais nova, Duniazid, passa a narrar histórias que prendem a atenção do sultão. Ao longo de mil e uma noites, Sherazad tece as aventuras do Bobo-da-Corte do Califa Harun-Al Hachid, a históriado persa e do curdo, a história de Shams-Al Nahar e muitas outras aventuras, para no final ganhar três filhos e o amor do sultão Shariar.
Márcio Souza adaptou os contos de Sherazad para o século XXI, num cenário urbano dilapidado, que tanto pode ter sofrido a agressão da guerra quanto a degradação da exclusão social. O encantamento e o desejo de fazer a vida triunfar sobre a morte estão presentes, assim como a superação da barbárie pela arte. A versão do TESC é a edição síria, composta no século XII, cujo manuscrito se encontra na Biblioteca Nacional de Paris. Para ressaltar o compromisso com a vida, o grupo escolheu as histórias de sensualidade, amor e humor.
Duração: 90 minutos.

A Maravilhosa História do Sapo Tarô-Bequê
Dias 08 e 09, às 16h

Premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte como Melhor Texto Teatral de 1997 e como Melhor Espetáculo e Melhor Cenografia no III Festival de Teatro da Amazônia em 2006, A Maravilhosa História do Sapo Tarô-Bequê recria livremente lenda da etnia indígena tucano em uma adaptação diferente dos contos tradicionais para crianças.
Certa manhã, um sapo procura o Pai do Mato, gênio que protege os animais e as plantas, pedindo para virar gente. Depois de muita argumentação e choro do Sapo, o Pai do Mato faz a transformação, avisando que ser homem não é coisa fácil. Para evitar a solidão, o Pai do Mato cria também, a partir de um cipó, uma namorada para Tarô-Bequê, agora homem. É Moça Juruti, que apesar de amar muito o jovem guerreiro, diz que só se casará com ele quando tiver fogo para cozinhar. O fogo é guardado pelo Urubu-Rei, feiticeiro perigoso, que vive num palácio construído numa imensa nuvem negra acompanhado de sua cozinheira Dona Mucura, tão feia que espantava qualquer mortal. Através de uma artimanha, Tarô-Bequê consegue roubar o fogo, enganando a cozinheira, e queima as penas mais bonitas do rabo do Urubu-Rei. Para se vingar, Dona Mucura rapta a Mora Juruti para a Casa dos Mortos, onde deverá casar com o Urubu-Rei. Com a ajuda de Dona Surucucu, a encantada, Tarô-Bequê consegue chegar na Casa dos Mortos, mas o final não é bem como ele tinha planejado.
Duração: 60 minutos.

Data: 04 a 09 de novembro de 2008.
Local: Teatro da Caixa Cultural
Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia-entrada para estudantes, pessoas com 60 anos ou mais, professores, empregados da Caixa)
Horário:
A Paixão de Ajuricaba, dias 04 e 05 às 20h;
As Mil e Uma Noites, dias 06 a 09, às 20h (recomendado para maiores de 14 anos)
A Maravilhosa História do Sapo Tarô-Bequê dias 08 e 09, às 16h.
Informações: Recepção: 0XX-61-3206-6465 (aberta de terça-feira a domingo, das 12h às 21h).

Thursday, November 06, 2008

Show "A Música em Mim" da cantora Lucina - Açougue T-Bone


Por Francisca Azevedo
30 de outubro de 2008

Show "A Música em Mim" da cantora Lucina em única apresentação em Brasília no Açougue Cultural T-Bone
A programação cultural do Açougue T-Bone da próxima quinta-feira, 06, traz uma grande compositora e intérprete da MPB. Trata-se da cantora Lucina com o show A MÚSICA EM MIM, título de seu mais recente DVD lançado através do Canal Brasil (Globosat). Lucina se apresentará acompanhada do cantor e compositor, Aloísio Brandão, e dos músicos Fabiano Borges (violão de sete cordas e guitarra) e Fernando Machado (clarineta, clarone e sax-soprano). Além disso, o evento terá ainda dois lançamentos literários: Sonhos, Momentos e Emoções: técnicas de gravuras, da escritora Lêda Watson, e O livro dos Poligotes de Murillo Cagiano. A indicativa é livre.

Show “ A Música em mim”
Lucina tornou-se conhecida através de suas canções nas vozes de Ney Matogrosso (Ney registrou 11 canções de sua autoria), Zélia Duncan, Nana Caymmi, Joyce, Banda Cheiro de Amor, Tetê Espindola, Daúde, Alzira E., Rolando Boldrin, Vânia Bastos, Fred Martins, Olívia Byington, Verônica Sabino, As Frenéticas, entre outros, além da dupla Luli e Lucina da qual fez parte por 25 anos, tendo lançado 7 CDs no Brasil e no exterior. Em sua carreira solo, já registrou 4 CDs e agora um DVD.
¨A Musica em Mim é a tradução da maturidade de uma artista. Em cada canção, a busca da emoção exata, a expressão de sua inteireza e a percepção de sua multiplicidade.

Nesses tantos anos de música, me parece, Lucina andou conquistando a sua essência, trabalhando a intuição, construindo a inspiração e conservando, sobretudo, o prazer e a inocência. No repertório, doses precisas de humor, sofisticação, modernidade e essencialidade. O encontro com vários parceiros (Luli, Zélia Duncan, Paulinho Mendonça, Aloísio Brandão, Lenita Lopez, Joaosinho Gomes) demonstra a fluência com que sua melodia transita pela poesia alheia (todas as melodias são de sua autoria). Lucina consegue dar a cada letra uma personalidade, e personalizar cada letra com sua melodia.¨ (Lenita Ribeiro – jornalista e atriz).

Músicos convidados:
ALOÍSIO BRANDÃO - Exigente, perfeccionista é dono de letras carregadas e de poesia madura e elaborada. Poeta da palavra enxuta e surpreendente. Dublê de artista e jornalista profissional (atua como repórter, redator e editor-chefe de uma revista científica de circulação internacional), letrista que escreve sistematicamente, e grande parte de suas letras destina-se a parcerias: Luli, Lucina, Tom Tavares, Luiz Theodoro e Zeca Bahia, entre outras.
FABIANO BORGES - violão de sete cordas e guitarra
FERNANDO MACHADO - clarineta, clarone e sax-soprano

Lançamentos literários:
Livro dos Poligotes do escritor Murillo Cagiano. Apoio: Fundo da Arte e da Cultura (FAC), Secretaria de Cultura do DF, Associação Nacional de Escritores (ANE) e Grafor Gráfica e Editora.

Sonhos, Momentos e Emoções: técnicas de gravuras da escritora Lêda Watson. A escritora carioca é, sem sombra de dúvida, um dos mais importantes e conceituados nomes da gravura contemporânea brasileira. Dona de um estilo único, Lêda tem povoado a arte com seu universo de formas e cores carregadas de emoção. A obra, com 128 páginas, na qual a gravadora conta sua trajetória, reproduz depoimentos de amigos (gente do cacife de Antonio Houaiss, Sergio Paulo Rouanet e José Guilherme Merquior) e detalha técnicas de gravação e promete se transformar em guia para os jovens artistas.

Informações:
Produção: (Francisca Azevedo ) 61- 8432-3669
Lucina: (21) 9167-2421/ 2609-4285 (Patricia Ferraz) patiferrazproducao@gmail.comEste endereço de e-mail está sendo protegido de spam, você precisa de Javascript habilitado para vê-lo
Site da Lucina - www.lucina.com.br
Aloísio Brandão: (61)2106-6527
Lêda Watson: (61) 8142- 0111(Carmem Moretzsohn), (61) 8142-0112 (Gioconda Caputo)
Data: 06/11
Horário: 20 horas
Local: Açougue Cultural T-Bone: SCLN 312 Bl B Lj 27 Brasília-DF
Tel: (61) 3963-2069
ENTRADA FRANCA

Wednesday, November 05, 2008

Lançamento de Excessos e Exceções do filósofo Hilan Bensusan


SINOPSE
Buscar compreender o pensamento e suas circunstâncias sem a pretensão de ser uma espécie de bússola ontológica. Desvendar as lacunas entre um pensamento e outro e observá-las como extensão das singularidades de cada pensamento. A obra de Hilan Bensusan, do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília, baseia-se em idéias de filósofos contemporâneos para discutir as variantes do pensamento e encontrar recursos para lidar com as muitas faces da questão de como o pensamento pode deixar de ficar indiferente à singularidade.

DADOS TÉCNICOS
Autor: Hilan Bensusan
Páginas: 392
Edição: 1ª
Ano: 2008
ISBN: 97-85-7698-023-0
Formato: 21,00 x 14,00
Peso: 0,489
Cód. Fabricante: 3.01.02.1177

LANÇAMENTO
Dia 6 de novembro de 2008
Horário: 20h
Local: Café com Letras
SCLS 203 Sul – Bloco C, loja 19
Brasília – DF

Monday, November 03, 2008

Trilhando o asfalto cotidiano


Trilhando o asfalto cotidiano

Sobre a obra TRILHAS* (Belo Poético-2007) do Poeta Rogério Salgado

Por Leonardo de Magalhaens


Temos hoje notado que a Poesia tem se metamorfoseado em múltiplas vertentes e remontada em perspectivas as mais variadas, como uma forma de explicitar em mil e um prismas a 'pluralidade' do mundo ao redor. Chamamos de 'diversidade' como se notássemos apenas agora que o mundo não tem uniformidade (e "toda unanimidade é burra", dizia Nelson Rodrigues) e muito menos 'coerência'.

A Escrita como forma de pinçar esta pluralidade é vista como 'politicamente correta' pois discriminar quem quer que seja é visto como 'preconceito', 'racismo', 'discurso anti-social', et cetera, como se a 'humanidade' fosse um conceito plural ad priori - o que não é. Só recentemente passamos a aceitar/tolerar o Outro, o Diferente. Desde o Iluminismo (sec. 18) passamos - enquanto 'civilização ocidental' - a tolerar os credos e visões dos Outros. E a poesia foi (e é) fundamental para esse processo de "Tolerância".

Fragmentar a Poesia não é o meio único de 'representar' todos e todas as 'perspectivas'. A poesia para ser aceita não precisa ser feita para um grupo ou outro. Mas que cada grupo lendo, ali se identifique. Um poeta não vem para agradar/representar um grupo ou outro, mas para visualizar peculiarmente todo um leque de vivências e situações. O Poeta é o visionário-mor por excelência.

Assim, encontramos hoje, aqui mesmo em BH, um Poeta que sem pretender 'representar' X ou Y, está simplesmente esboçando sua opinião/versão sobre TUDO. Não enquanto pretensão, mas porque sendo um 'flaneur' pelas ruas do bairro Padre Eustáquio este poeta medita/vivencia o que acontece ao redor e no distante - seja no presente e no passado.

Quando descobrimos a Poética de Rogério Salgado não somos tocados por uma peculiaridade ou originalidade, mas por sua 'multiplicidade de temas', seu olhar atirado sobre TUDO e TODOS. Um poeta que deseja denunciar, mas também amar, que quer despejar amargura, mas também quer transar!, quer abraçar os vultos saudosos e incendiar os templos da religião mercenária!

Seguindo estas 'trilhas' em companhia dessa miríade de versos, sem artificialismos e pretensões, vemos que uma Poesia 'pluralista', como hoje se apregoa, não passa de artificialismo e 'guettização'. Não há poesia para cada grupo/classe social, mas uma POESIA PLURAL. Falemos, portanto, dessa Poética.

A ironia do poeta Rogério Salgado diante da realidade social é ácida e certeira. Ele não vem 'falar bonito', ele vem enfrentar as feras e fuligens! Ele cita notícias de jornal, ele rememora crimes hediondos, ele tece referências aos casos e descasos da sociedade. Um exemplo? Eis o poema Ode ao Planet Hemp (ou Réquiem para Galdino): “Proibido queimar fuminho./Permitido queimar índio.”

Aqui em brutal referência ao caso do índio Pataxó em Brasília, em abril de 1997, que foi vítima de um grupo de filhinhos-de-papai que nada tinham para fazer para 'matar o tédio'. Então resolveram queimar um 'mendigo', e acabaram nas manchetes!Uma sociedade que denunciada mostra o quão incoerente e mesquinha. Não uma crítica 'marxista' ou 'liberal', mas um anseio de quem busca a 'liberdade'. Daí sua crítica a todo tipo de discurso ou ação que venha limitar o ser livre pensante (se ainda sobraram alguns...) É uma crítica ao 'autoritarismo' que encontramos no poema 1o de abril (parceria com Virgilene Araújo): "não havia mocinhos fardados naquele momento/ havia sim, facínoras que nos roubariam/ todas as possíveis liberdades" retratando liricamente (dentro do possível) a 'ditadura militar' de 1964 a 1985, sob um olhar de denúncia verbal, enfática e imagética. Vemos as fardas e ouvimos o ressoar das botas. Até porque, segundo o escritor Luís Mir, em seu volumoso livro "Guerra Civil - Estado e Trauma", Exército no Brasil só serve mesmo é pra bater em civil, impor um 'terrorismo de Estado'. "Nas palavras de minha avó/ ocultavam-se gemidos/ nos porões do DOI-CODI/ coronéis torturando/ brancos idealistas pela liberdade." (Poema 1964).

Enfrentando o cotidiano áspero, em suas andanças, o Poeta quer fugir ao tédio da mesmice num movimento de abrangência onde sua expressão do 'real' torna-se a 'realidade' para ele, ou seja, os versos são mais 'reais' que o mundo denunciado: “Meu tédio/ é feito de bocejar poesia/ por essa razão/ jamais me sentirei de saco cheio.” (Cotidiano).

Evidencia-se mais numa crítica a alienação cotidiana, o poema Brasil Moderno (mais um poema pro Natal) (parceria com Virgilene Araújo): “(...)/a fome financeira alimenta igrejas/ mas não alimenta a solidariedade./ Nas ruas, crianças choram/ faltam seios/ e o homem cada vez mais frio/ congela seus sentimentos/ caminhando em busca de tudo/ sem saber que no final do juízo/ só encontrará o nada/ absolutamente nada./ (...)”

e mais ainda no poema Cotidiano, que desce o olhar no calendário do dia-a-dia: “Nasce janeiro e morre dezembro/ e sempre a velha hipocrisia de sempre/ imperando entre os humildes” - apenas para constatar a mesmice galopante: "a vida continua / e a mesma velha história"

Também se percebe a crítica à exploração religiosa, quando Rogério lançou o libelo Quermesses (Belô Poético-2007), que abalou as mentes medievais que ainda transitam ao nosso redor em pleno século 21 (o que quer que isso signifique!) O poema-título Quermesses (na p. 31) aponta as incoerências entre um sistema religioso que se diz 'fraternal' e um sistema econômico 'mercenário': "Amai o próximo como a ti mesmo"/ frase perdida no tempo/ agora o tempo presente/ se faz de egoísmo e posses/ enquanto o mundo caminha/ tranqüilo esperando o juízo final.” E o poema Cordel Urbano, na p. 32, cujo início é: "No exato momento da orgia / econômica das igrejas de Jesus / o capitalismo exacerbado e egoísta / fode conosco, que carregamos nossa cruz", já denunciando sem literatices o que seja um contra-senso nesta absurda contradição de um sistema religioso que não hesita em apoiar os donos do poder (qualquer estudo sobre o cristianismo e o fascismo evidencia isso...). Daí o tom 'iconoclasta' e 'escatológico' que notamos no poema Apocalipse:”(...)/ em cada poesia/palavras perecerão nas fezes/onde o carcomido e o não comido/apenas no apetite perpétuo/será palavra compacta./A paz em parábolas/perde-se-á na miséria/nesse final dos tempos/ pois na pedra há de ser gravada/pela palavra, porque assim será.”

A METALINGUAGEM

Outra característica do Poética salgadiana é a metalinguagem. Quando o poeta fala abertamente (e obscenamente) do ato de 'poetar', ao deitar um olhar sobre a própria escrita: “Escrever difícil é simples./Difícil é escrever simples.” (Questão de lógica) E também:“Tudo me fascina/se a poesia alucina./Tudo me diverte/se de amor, o coração derrete. (Quadrinha ridícula de rima fácil). E ainda: "Minha vida sempre perde./ Minha poesia sempre ganha./ Não sei se vivo/ ou se escrevo." (Impasse, p. 58), onde a poesia se confunde com o próprio existir. Ao imergir em questões tantas ao ser poeta. Mas - o que é ser um Poeta?

(Autodefinição p. 60) “O que causa solidão/é o fato de ser diferente/ por isso observo flores no concreto/a lua de dia e o calor da noite/da maneira mais trágica e poética/do que não desejaria ser:/ inconcebivelmente um poeta.” (Um quarto de ofício p. 69): Um poeta num quarto qualquer/constrói o ofício de seu verbo/moldando palavras e sentimentos/como sofrida solidão de compor.”

Os leitores e os ouvintes não percebem que o poema nasce da dor do poeta, a dor de perceber-se deslocado no meio da multidão, a dor de desejar ser além do que se é permitido ser. Vejamos Poética (p. 70) “Meninas lêem meus poemas/ e põe-se a sonhar/com a poesia gestada dos meus versos/Palavras fúteis, pronunciadas ao vento.../ Se soubessem a dor da feitura/na hora de parir a poética/talvez perdessem mais seu tempo/observando tais versos./Palavras fúteis, pronunciadas ao vento.../ mas que para o poeta, valem uma vida.”

Epitáfio (p. 70) “Aqui nasce um poema/enquanto o poeta/falece na composição amarga/de rasurar sua dor.”

Diálogo poético e paródia se misturam quando o Poeta eleva a voz ao Poeta Mineiro das Itabiras, no Poema por apenas ter dito... (Com sua licença, Drummond) (p. 71) “Quando nasci/alguém deve ter dito:/-Vai cara, ser poeta na vida!/Passaram-se dias, meses, anos/e entretanto a sina se profetizou” - Ou quando relembra os versos e ambiências de Fernando Pessoa e seus heterônimos (o poeta é fingidor e o 'guardador de rebanhos') em Errante (p. 81) (a 3a estrofe), "Tenho revisto Pessoa / sendo fingidor todos os dias / pastoreando poemas e ovelhas."

O que é a Poesia em si-mesma? Poemia (p.73), "Sou o retorno do que não fui/ por isso a poesia me acompanha/ dorme na minha cama/ convive comigo" - A palavra (p. 74), "E além da vida / sobrevive a palavra / mas o poeta / acaba" - Poema Mundi (p. 76), "Meu poema é livre / pé na estrada, poeira / e não deve satisfação / a quem quer que seja." - Questão de Linguagem (p. 82) “O poema é isso:/descompromissado/por isso surge lúcido/ou alcoolizado/(depende das circunstâncias)/sendo impresso em papéis/ e distribuído entre tantos/que nem atentos percebem/a fragilidade do poeta.”

Poema na Pessoa (p. 152), que inicia "O poema é aquilo / que comumente é impossível / mas que é passivo de ser possível / quando brota da emoção." E finaliza "O poema não são meras palavras / ou meias palavras cortadas. / O poema é a pessoa." - O último poema (p. 163-64): “A noite é tapete estrelado/onde, sob essa luz que brilha/o poeta aguarda a vida e a morte/rasgando seu peito febril/e, na dor de rasurar papéis/compõe com versos livres/seu último poema.”

O poeta se embebeda em solidão nos bares noite adentro em lírica boemia, sofrendo a insensibilidade da cruel indiferença dos leitores, como lemos em Prelúdio por um momento de vazio: “Depois de dois copos de conhaque/só resta compor versos/e rabiscos na mesa do bar/para que os insensíveis leiam.”

O antídoto para a solidão ensimesmada do Poeta é um mosaico de imagens familiares, de recortes da infância, de saudosas figuras de amigos falecidos, ou pessoas que se afastaram de um costumeiro convívio, ou de vultos despersonalizados que servem como receptáculos dos desejos do eu-lírico. A família se afigura um referencial, uma raiz, um abrigo na adversidade. Socialmente disperso, mas familiarmente enraizado, o poeta ainda encontra um lugar no seio da família, primeiro lar, depois lembrança.Enquanto

lembrança do lar, a infância a ressurgir como uma 'busca ao tempo perdido', ora idealizada, ora remodelada pelas saudades do eu-presente. Uma infância feita de comparações tecidas entre o que se esperava dele e o que ele se tornou hoje: “Eu era feliz na inocência/ porque era ainda menino./ A barba hoje marca esse rosto/ os cabelos enevaram-se/ e os olhos lacrimejaram/ e o que era ainda menino/ amadureceu na rudeza da vida./” (Ainda menino) – “Quando criança/ imaginava que o mundo/ era só fazer peraltices/ depois ser embalado docemente/ pelos braços de minha mãe./ Hoje vejo que o mundo/ é poesia e solidão/ e uma vontade louca/ de fazer peraltices/ e depois refugiar-me sozinho/ longe deste mundo adulto/ com vergonha de chorar...” (Infância).

A solidão do eu-presente somente é aliviada por uma busca nas brumas do passado, como a reconstituir uma identidade já perdida ou transviada. A menos que uma substituta da imagem materna se aproxime. É a figura da Amada, da Musa. Com o advento de sua 'cara-metade' Virgilene Araújo, a esposa/musa, o Poeta Rogério Salgado pode instrumentalizar seu lado Eros após toda uma fase de crítica e amargura, como demonstra um poema 'a quatro mãos'. “Transformar a pedra/ em poema/verso/ é um trabalho que nos parece/ comum/entanto, a jornada das horas/carece de que sejamos/operários da palavra/labutando com a semente macia/macerada e sofrida/que poderia ser somente/mais. uma por que não?” (Ofício poesia).

O tema amoroso aflora na poética de Rogério Salgado, ainda que destoando do seu estilo árido e cínico, uma vez que para abordar o tema 'romântico' falta ao poeta uma real singeleza. O poeta é sarcástico demais para soar amoroso (tal um Neruda, por exemplo) Não que seja uma 'deficiência do autor' mas não emociona. Exceção para os poemas de teor basicamente erótico. É singelo um poeta que escreve "Meu amor / só quer / me ter... " (Egoísmo)? Ou "Não, baby/ não me venha / com esse papo de amor / nem de que sou sim / tão importante pra você. / Prefiro mesmo é falar de futebol." (Papo de jogar conversa fora), ou "O amor só vale a pena / se a cama não for pequena." (Parafraseando Fernando Pessoa) ou ainda: “Enquanto a comida queima/no fogão/você me abraça, me beija/ me alisa e toca no meu sexo/dizendo que me ama./O salário é curto/e nem temos ainda/grana pra pagar o gás...” (Vida a dois)



Então parece mesmo que o Erotismo fascina mais que o tom romântico a se esperar de um poeta singelo e apaixonado. O Eros tem uma carga de 'sacanagem' que dispensa a singeleza. Vejam só: "Não quero te ver verde: / quero-te amadurecida em minhas mãos / feito fruta boa no verão / branca feito alvidez no inverno / caindo em meus braços / em noite de lua clara em primavera / como se fosse outono dentro de mim." (Estações, p. 41), e "e pela cortina de seda / que filtra a luz pela manhã / seremos plenos em nossos caprichos / seremos seres humanos / seremos bichos.", e também: “Queria tocar o bico do seu seio/carinhosamente como quem toca/uma cereja/mas você jamais entenderia/ que no bico do seu seio/possa existir tanta pureza/por isso, antes que você diga/que sou um maldito pornográfico/imagino o bico do seu seio/na minha mais completa inocência.” (Poema inocente para ser recitado) . Poema Transa (p. 49), "A menina dos meus olhos / é uma prostituta louca / que transa todas as noites / com meus cílios / dando-se toda / deixando derramar espermas / que serão colírios / que me farão enxergar o mundo / mais obsceno do que ele é."

Parece que o Erótico surge como outra 'válvula de escape' diante das pressões, mais do que um 'relaxamento' do eu-lírico, como se agora depois da amargura, o poeta apaixonado se reconciliasse com o corpo, o Outro e o mundo.

Relembro que TRILHAS do Poeta Rogério Salgado é uma obra múltipla que requer atenção e um olhar também múltiplos, uma vez que 'rótulos' e 'imagens' aqui pouco valem, sendo mais uma constatação de que a real poesia é nada mais nada menos que a irreal vida do Poeta.

*trata-se de uma coletânea de poemas em seleção organizada por Virgilene Araújo, esposa do Poeta. Poemas de 1984 a 2007
Leonardo Magalhaens é poeta, escritor e filósofo. Secretário da OPA – Oficina de Produção Artística de Belo Horizonte. leonardo_de_magalhaens@yahoo.com.br

Patricia Klein é a vencedora da Competição de Vídeos De Olho no Clima


Patricia Klein é a vencedora da Competição de Vídeos De Olho no Clima, com o documentário 'Ação em Rede'. Foi o vídeo mais visto, e receberá como prêmio uma viagem à Londres, no dia 19 de novembro, para visitar instituições ambientais e científicas inglesas, e produzir um making of da viagem com apoio de um profissional do Canal Futura. - http://www.deolhonoclima.com.br/Noticias/Noticia.aspx?i=312

Embaixada de Portugal celebra a poesia de Marly de Oliveira


Mais sobre a poesia de Marly de Oliveira: http://marlydeoliveira.blogspot.com