ZÓZIMO TAVARES
Torquato Neto ou a Carne Seca é Servida, publicação do jornalista Kenard Kruel recém-editada pelo Instituto José Eduardo Pereira, tem apenas 42 páginas, mas é um bom começo para quem pretende conhecer a breve e frenética vida do autor de "Geléia Geral". Em linguagem despojada, Kenard reúne as principais informações biográficas e artísticas sobre nosso "Anjo Torto", apoiado em depoimentos de pessoas que conviveram com o poeta.
Kenard Kruel é um apaixonado pela obra torquatiana. Foi ele a primeira pessoa que ouvi falar sobre Torquato Neto, no final dos anos 70. E falava com tanta empolgação e tanta emoção que foi aos prantos, comovendo a mim, este "rapaz latino-americano vindo do interior" e a tantos outros estudantes imberbes que assistiam a sua palestra.
O entusiasmo daquele jovem macérrimo vindo de Parnaíba e exibindo na camiseta um poemeto despertou meu interesse pelo poeta. Não demorou muito e consegui folhear o livro "Os Últimos Dias de Paupéria" na biblioteca da Universidade Federal do Piauí, depois de procurá-lo em vão em outras bibliotecas da cidade.
Pois bem, faço essa divagação para enfatizar que, em Torquato ou a Carne Seca é Servida Kenard consegue seu libertar do seu notório passionalismo e entrega ao público uma obra absolutamente isenta. Ela é construída no formato de um mosaico, a partir de impressões, sentimentos e testemunhos dos que conheceram de perto o poeta e sua obra.
O material foi recolhido ao longo de 20 anos, em fontes esparsas, com predominância de jornais e revistas.
O autor refaz os últimos passos de Torquato Neto rumo à viagem derradeira, informa sobre a publicação de Os Últimos Dias de Paupéria, uma edição pós morte, e dá conta de dois livros até hoje inéditos: Pesinho Pra Dentro, Pesinho Pra Fora (pesinho assim mesmo, com "s") e O Fato e a Coisa. Também relata a sua participação na única edição da revista Navilouca. Da mesma forma, mostra as incursões de Torquato Neto pelo cinema e pela televisão. O destaque, evidentemente, é para a poesia de suas letras, o ponto alto de sua produção artística, sempre "desafinando o coro dos contentes na condição de fundador do movimento Tropicália.
A publicação de Kenard, que eu não ousaria chamar de livro, é fundamental para iniciados e iniciantes em Torquato Neto, pois reúne a essência de sua curta vida e de sua pequena mas significativa obra. Há, ainda, outro mérito: além de Os Últimos Dias... nada foi publicado até agora de mais robusto sobre Torquato Neto, daí porque o leitor pode servir-se à vontade de A Carne Seca...
Poema do Aviso Final
(torquato neto)
É preciso que haja alguma coisa
alimentando meu povo:
uma vontade
uma certeza
uma qualquer esperança
É preciso que alguma coisa atraia
a vida ou a morte:
ou tudo será posto de lado
e na procura da vida
a morte virá na frente
e abrirá caminho
É preciso que haja algum respeito
ao menos um esboço:
ou a dignidade humana
se firmará a machadadas.
Wednesday, February 07, 2007
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