PIAUÍ
Mariane Roccelo 03/09/2014
Pouco se sabe das razões que fizeram com que ele perdesse o senso da realidade. Após ser internado algumas vezes
Com os olhos semicerrados, na tentativa de driblar os problemas de
visão, Herbert Williams Coutinho Melo, o Piauí, pesquisa, atentamente, o
site da NASA (Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço) no
computador da biblioteca da Escola de Comunicações e Artes da USP. O
tema em questão é corriqueiro nos assuntos do famoso transeunte,
conhecido por discursar aos ventos sobre política, repressão, galáxias e
satélites.
Há quase 30 anos na USP, ex-aluno de ciências sociais e ex morador do
bloco F do CRUSP, o andarilho passa seus dias passeando pela
universidade e conversando com quem estiver disposto a lhe dar atenção.
“Nasci em Teresina (…) e fiquei conhecido como nordestino aqui na USP”,
diz. Ao ser indagado sobre o que costuma fazer nos computadores das
bibliotecas ele responde: “Eu aciono meus satélites inteligentes”.
Pouco se sabe das razões que fizeram com que ele perdesse o senso da
realidade. Após ser internado algumas vezes a pedido da Universidade,
Piauí se mostra irritado quando pergunto sobre as internações forçadas.
Segundo o funcionário do sindicato dos trabalhadores da USP e amigo de
Piauí, Marco Antonio Rodrigues, “Ele vive praticamente da ajuda da
comunidade, dos estudantes”. Segundo Marco, Piauí leva uma vida
tranquila e gosta muito de falar e ser ouvido, “A relação dele com o
sindicato é muito próxima porque ele acaba fazendo a refeição comigo. Eu
abro o sindicato às 7h da manhã e ele já esta aqui esperando o
cafezinho.”.
Entre tantos assuntos e teorias mirabolantes, é possível perceber
alguns momentos de lucidez. Em um desses momentos, pergunto sobre sua
relação com os estudantes: “Eu gosto. Não tenho nada contra ninguém na
USP. Sou o primeiro a evitar confusão no campus” diz. Apesar da aparente
irritabilidade e das eventuais palavras agressivas, nunca houve
problemas graves ou relatos de agressões por parte de Piauí. “Acho que
justamente por ele não ter um senso de medida claro, ele, na interação
com as pessoas, se torna inconveniente às vezes” fazendo com que as
pessoas se retirem ou peçam para que ele saia, diz Marco.
Com mais de 60 anos de idade, Piauí se mostra incansável em suas
caminhadas diárias. Sua presença é constante em algumas unidades dos
cursos de humanas da USP, como a ECA e a FFLCH. Já morou no CRUSP
oficialmente e não oficialmente, e também no Canil da ECA – espaço
estudantil onde aconteciam shows – antes de sua demolição. Toma banho no
SinTusp, no CEPE, e veste roupas doadas pela comunidade universitária.
Piauí vive mais do que ninguém a vida na Universidade, sua presença
constante o torna uma figura lendária e querida pela comunidade
universitária.
http://www.jornalista292.com.br/noticia_detalhe.php?id=23522
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