Monday, December 12, 2011

JORGE ANTUNES, UM COMPOSITOR SUBVERSIVO


Esse é o título do concerto que apresentará algumas das obras de Jorge Antunes que, em diferentes momentos de sua carreira de compositor, incomodaram os detentores do poder, transgrediram as normas vigentes, foram censuradas e provocaram reflexões. O espetáculo encerrará a série de concertos “Brasília minha música”, apresentada de 1º a 16 de dezembro, na Sala Cassia Eller da Funarte de Brasília.
O concerto se realizará na sexta-feira, dia 16 de dezembro, às 20h00. Os ingressos custam R$ 10,00 e R$ 5,00.

O grupo GEMUNB, dirigido pelo maestro Jorge Antunes, é integrado de cantor barítono, clarineta, violino, viola, violoncelo, piano, eletrônica e computador.
Uma obra exclusivamente eletroacústica abrirá o concerto: Auto-retrato sobre paisaje porteño. Essa obra foi composta no Instituto Torcuato Di Tella de Buenos Aires em 1969. Nela Antunes monta um retrato sonoro dele, sobre fundos musicais que reportam ao Brasil e à Argentina, ambos países vivendo anos de chumbo na época. Um jogo de vozes com a palavra "General", no final da obra, foi motivo para a censura da composição, ficando a obra engavetada durante mais de uma década.

Cabra da Peste, composta em 1964, incomodou a censura militar. A letra da canção, também de autoria do compositor, diz no início: “cabra da peste marcado pra morrer”. Nos versos finais inverte: “Um dia a gente deixa de ser cabra marcado pra morrer, pra ser cabra marcado pra matar”. A peça foi censurada na época.

Outra obra bastante polêmica é Seis Missivas BB, de 1997. Durante vários anos Antunes apresentou projetos ao CCBB e à Fundação Banco do Brasil, pedindo apoio e patrocínio para suas óperas para crianças e para a sua ópera Olga. Seguidas vezes recebeu recusas. No início de 1996 o compositor carioca Guilherme Bauer apresentou, ao mesmo CCBB, o projeto de uma série de concertos a serem realizados com obras novas de 34 compositores. O projeto foi aprovado e, a Jorge Antunes, coube a encomenda para compor uma obra para canto e piano. Havia chegado a hora da vingança. Antunes compôs Seis Missivas BB. Juntou as cartas recebidas que negavam apoio a seus projetos, e as musicou. Claro, foi censurado. A peça foi excluída do projeto e o CCBB não lhe pagou a remuneração da encomenda.

As outras obras incluídas no programa também criaram muita polêmica em suas estreias. Um trio, intitulado Três Impressões Cancioneirígenas, de 1976, ironiza o Ato Institucional nº 5, o nefasto AI 5, em momento em que o ato de exceção dos militares ainda estava em vigor. Na mesma obra Antunes ironiza com o conservadorismo dos próprios músicos, colegas do compositor, e com o preconceito dos eruditos para com a música popular.

Na última obra do programa, intitulada Polimaxixenia Sideral, Antunes faz variações com um tema de maxixe, ironizando com o preconceito que a intelectualidade muitas vezes tem com relação ao saber popular. Nessa obra mais recente, composta em 2010, o maestro Jorge Antunes constrói uma estrutura em que coabitam diferentes mundos sonoros: o da música erudita, o da música experimental, a música popular e os sons eletrônicos. A clarineta, o violino e o piano são processados eletronicamente ao vivo, com um computador que usa o programa GRM-Tools.

O GEMUNB: Sidnei Maia, flauta; Leonardo Neiva, barítono; Marcus Lisbôa Antunes, violino; Félix Alonso, clarineta; Mariuga Lisbôa Antunes, piano; Guerra Vicente, violoncelo; Jorge Antunes, direção, sons eletrônicos e computador.

SERVIÇO:
Jorge Antunes, um compositor subversivo
uma retrospectiva de obras musicais polêmicas compostas entre 1964 e 2010
na série “Brasília minha música”
Sala Funarte Cássia Eller, Brasilia
16 de dezembro de 2011 - 20h00
Ingressos:R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Classificação indicativa: 14 anos

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