Friday, January 14, 2011

Blog brasiliense espalha obras literárias e pede que continuem a passá-las


Mariana Moreira
Publicação: 13/01/2011 08:00 Atualização: 13/01/2011 10:24

Imagine que, em um dia de folga, você elege um ponto turístico da cidade para passear. Ao chegar, senta-se num banquinho para admirar a paisagem e percebe que alguém esqueceu um livro. Dá uma folheada e descobre um recadinho que indica que o “esquecimento” foi proposital: um bom samaritano decidiu dividir com o sortudo que encontrasse o volume uma experiência literária marcante, que depois deve ser dividida com outros. Projetos dessa natureza se multiplicam pelo mundo, mas um deles começou há três meses em Brasília e já fugiu ao controle de sua idealizadora, a administradora Simone Ramalho. No blog Lá Vai o Livro, ela anda recebendo relatos de volumes encontrados em lugares que sequer conhece.

A corrente do bem começou quando a funcionária do Ministério da Educação participou de uma gincana proposta por um curso de formação de líderes que frequentou. Uma das atividades era integrar os amigos, demonstrando capacidade de envolver terceiros com sua proposta. Poderia ser uma caminhada ou um passeio ciclístico, mas ela decidiu reunir sua turma numa ação contínua de distribuição de livros. Não foi difícil encontrar obras para espalhar pela cidade: uma das etapas anteriores do curso era justamente arrecadar alguma coisa, como comidas e agasalhos, e doar para instituições de caridade.

Demonstrando a veia cultural, Simone já havia optado por recolher livros. A grande maioria foi doada a uma biblioteca no Recanto das Emas, mas os livros repetidos e algumas obras literárias foram espalhadas por diversos pontos da cidade para serem encontradas pelos moradores do Distrito Federal. “A leitura é o melhor caminho para uma pessoa se autoeducar, construir seu próprio conhecimento”, defende Simone, rata de biblioteca desde a infância.

O projeto foi lançado oficialmente, no dia 28 de setembro, em um jantar de amigos, no Pontão do Lago Sul. Depois de grampear um aviso explicando o funcionamento do programa na capa dos livros, o grupo se espalhou pelo pier, restaurantes e canteiros do local, para começar a empreitada. Poucos dias depois, todos se encontraram no Zoológico de Brasília para repetir a distribuição de títulos de Luis Fernando Verissimo, Jorge Amado e livros de autoajuda. Nas duas primeiras saídas, eles espalharam cerca de 500 volumes em diferentes pontos.

E não são os únicos a compartilhar o prazer da leitura. A ideia fascinou amigos de amigos, moradores de Brasília, de outras capitais e até mesmo brasileiros que vivem no exterior. O pai de Simone deixou alguns volumes no aeroporto de Salvador, amigos do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraíba também semearam livros pelas ruas da cidade e depois mandaram registros fotográficos para a coordenadora da iniciativa. Resultado: muita gente escreve para o blog relatando ter encontrado obras em lugares onde ela e sua rede de contatos ainda não chegou, como a Rodoviária de Fortaleza. A divulgação da ideia mobilizou compatriotas que vivem na Itália e na Alemanha e eles já começam a distribuir livros por lá. Sinal de que os livros já estão circulando em sua ciranda infinita.

Movimento livre
» Esta não é a primeira vez que a iniciativa de compartilhar literatura chega a Brasília. Projetos semelhantes começaram a surgir no país em meados da década passada. Um exemplo é o Movimento Livro Livre, inspirado em ações desenvolvidas mundo afora, que chegou por aqui em 2007. Com pequenas variações, a base da proposta era a mesma: quem encontrasse um livro do projeto poderia lê-lo e depois devolver à ciranda de interessados. Quem quisesse contribuir com uma obra, deveria colocar uma identificação do Livro Livre no volume e escolher um local público para deixá-lo. O blog do movimento recebia manifestações dos leitores sobre os livros encontrados.

Sonhos tecnológicos
Neste mês, Simone pretende fazer uma nova campanha de arrecadação e colocar novos volumes em vários cantos do Distrito Federal. Outra proposta é colocar um marcador de visitas no blog e, um dia, ter tecnologia suficiente para instalar chips nos livros e acompanhar suas trajetórias mundo afora. “Enquanto isso não acontece, gostaria também que as pessoas entrassem no site para contar onde encontraram o livro e que experiência ele proporcionou”, pede. Um dos felizardos a encontrar obras espalhadas por Simone é o estudante de direito Edward Silva, de 23 anos. Durante um passeio pelo Pontão, ele achou um exemplar de O código Da Vinci, de Dan Brown, depositado em uma mesinha próxima ao banheiro masculino. “Não tinha lido e todo mundo comentava. Foi uma chance de matar a curiosidade e participar de um projeto legal”, conta o futuro advogado, que encarava a relação com os livros como obrigação profissional e transformou-a em lazer. Depois de mergulhar no universo religioso e místico da obra, ele emprestou a obra para um amigo. Assim que for devolvido, o livro voltará a girar pelas ruas do Distrito Federal. “Penso em deixá-lo em um lugar reservado, mas com algum movimento, como um shopping. A leitura não é tradição no nosso país, mas quem lê escreve e se comunica melhor do que os outros”, aconselha.


COMO PARTICIPAR DO LÁ VAI O LIVRO
» Leia um bom livro;
» Deixe no blog www.lavaiolivro. blogspot.com um comentário falando da obra e contando quando e onde pretende deixá-la;
» Escreva ou cole o texto abaixo indicado, na contracapa ou na primeira página do livro;
» Deixe-o em um local público;
» Se você achou um livro que foi deixado por alguém, escreva um comentário contando como foi a experiência.

"Olá!
Deixei este livro aqui, propositadamente, para que você o encontrasse, pois desejo compartilhar essa leitura que me foi tão prazerosa.
Agora convido-o(a) a fazer o mesmo. Após a leitura, deixe-o em um local público para que outra pessoa o encontre e viva essa mesma experiência que você está vivendo agora.
Se quiser compartilhar como foi esta experiência, acesse o site http://lavaiolivro.blogspot.com e deixe um comentário contando qual o livro encontrado, onde o encontrou e como foi a experiência.
Venha! Entre na roda, cante e brinque conosco: lá vai o livro girar na roda, passar adiante sem demora e se, ao fim desta canção, você estiver com o livro na mão, depressa conte essa história!"

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