Por Luiz Inácio Lula da Silva *
Os biocombustíveis ajudam a combater a fome, proporcionando renda que permite às populações pobres comprar alimentos, afirma neste artigo exclusivo o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.
BRASÍLIA, 16 de julho (Terramérica).- As discussões da Cúpula do Grupo dos Oito países mais poderosos do mundo, em Heiligendamm, deixaram claro que a mudança climática, o crescimento sustentável, as fontes renováveis de energia e o financiamento do desenvolvimento são assuntos sobre os quais os países do Sul devem ser ouvidos. No final das contas, nossas populações são afetadas por esses múltiplos desafios. E mais: em nossos países surgem propostas inovadoras e criativas para enfrentá-los. A contribuição dos líderes de Brasil, África do Sul, China, Índia e México (o Grupo dos Cinco) durante a cúpula ampliada do G-8 reforça a importância de aprofundar um verdadeiro diálogo Sul-Norte.A África tem um papel central neste debate. O continente passa por profundas transformações que estabelecem as bases para um novo ciclo de estabilidade política e dinamismo econômico. São 53 países, vastos recursos naturais e uma população jovem que aspira realizar todo seu potencial. Essa África, que visitei cinco vezes durante meu mandato e que continuarei visitando, está reforçando seus vínculos econômicos com o Brasil: na Cúpula África-América do Sul de 2005 e nas duas edições do Fórum Brasil-África exploramos as potencialidades dessa associação. Os biocombustíveis podem dar uma qualidade superior a essa aliança.O Brasil tem uma experiência bem sucedida, de mais de 30 anos, na produção de combustíveis que combinam segurança energética com benefícios econômicos, sociais e ambientais. A mistura de 25% de etanol à gasolina e a utilização de álcool puro em automóveis Flex-fuel permitiram reduzir em 40% o consumo e as importações de combustíveis fósseis. Deixamos de emitir, desde 2003, mais de 120 milhões de toneladas de gás carbônico, ajudando a combater o aquecimento global.Contudo, o potencial das biomassas transcende a geração de energia limpa. A indústria do etanol criou 1,5 milhão de empregos diretos e 4,5 milhões indiretos no Brasil. O programa de biodiesel, em sua fase inicial, já dá trabalho a mais de 250 mil pessoas, sobretudo a pequenos agricultores de zonas semi-áridas. Os biocombustíveis também ajudam a combater a fome, proporcionando renda que permite às populações pobres comprarem alimentos. Sua produção não ameaça a segurança alimentar, já que afeta 2% de nossas terras agrícolas.Esses programas desestimulam as migrações desordenadas, reduzem a saturação das grandes cidades e a marginalização urbana, bem com a pressão dos pequenos mineradores e dos agricultores para arrasar com as florestas autóctones. Além disso, a expansão da cana-de-açúcar, da qual se extrai o etanol, contribuiu para recuperar regiões de pastagens degradadas, de baixo ou nulo potencial agrícola. Por todas estas razões, os biocombustíveis têm uma relevância especial para os países em desenvolvimento. Devido ao seu enorme potencial de criação de empregos e renda, oferecem uma verdadeira opção de crescimento sustentável, especialmente para as nações que dependem da exportação de escassos bens primários.Ao mesmo tempo, o etanol e o biodiesel abrem novas avenidas de desenvolvimento, sobretudo nas indústrias bioquímicas. São alternativas econômicas, sociais e tecnológicas para países economicamente pobres, mas ricos em sol e terras aráveis. Estou convencido de que os biocombustíveis devem estar no centro de uma estratégia planetária de preservação do meio ambiente. Acordos, como o assinado entre Brasil e Estados Unidos e o que se negocia com países europeus, prevêem a instalação de projetos triangulares na América Central, Caribe e África, capazes de unir a tecnologia brasileira com as condições climáticas e os solos favoráveis nessas regiões.O governo e o empresariado do Brasil já oferecem cooperação técnica para a produção de álcool e biodiesel em Moçambique, onde um programa de biocombustíveis associa o conhecimento brasileiro com o financiamento britânico. Podemos repetir essa iniciativa em toda a África subsaariana. Os combustíveis agrícolas podem ajudar um mundo sem soluções para a degradação ambiental e o encarecimento da energia. Oferecem esperança às nações pobres ao combinar crescimento econômico, inclusão social e conservação ambiental. Um valioso aliado, portanto, no combate à instabilidade social e política, à violência e à migração desordenada.Essa revolução só acontecerá se os países ricos abrirem seus mercados, eliminando subsídios agrícolas e barreiras à importação de biocombustíveis. Todos ganharão. As nações em desenvolvimento gerarão postos de trabalho para as populações marginalizadas e divisas para suas economias. Os países desenvolvidos poderão ter acesso a fontes limpas a preços competitivos, em lugar de investir em caras inovações para que os combustíveis convencionais sejam menos poluentes. A criação de um rigoroso sistema de certificação, reafirmado por acordos multilaterais e pelo compromisso da opinião pública, ajudará a preservar o meio ambiente e garantirá condições dignas de trabalho.Os biocombustíveis oferecem uma alternativa para ajudar a humanidade a prosperar como um todo, sem deixar ninguém para trás nem hipotecar o futuro. Está é a mensagem que levarei à Conferência Mundial sobre Biocombustíveis de 2008, que o Brasil está organizando. Juntos, Brasil e África podem ajudar a modelar uma solução mundial, justa e duradoura para alguns dos principais desafios do século XXI.
* O autor é presidente do Brasil.
Legenda: A África diante do dilema de cultivar alimentos ou combustíveis agrícolas.
Crédito : Photo StockArtigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde. (Envolverde/Terramérica)
Monday, July 16, 2007
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