Thursday, November 17, 2005

A VERDADE É QUE OS PÁSSAROS DO CÉU...

A verdade é que os pássaros do céu

Se sustentam no ar movidos pelos seus próprios sonhos

A verdade é que pisamos a terra do chão

Esmagando com nossos calcanhares nossos próprios destinos

A verdade é que esquecemos – constantemente -

De que somos feitos pra dar carinho

Tuesday, November 08, 2005

A CIGARRA E O FLAMBOYANT EM FLOR

De seu aparelho estridulatório o macho emite um som estridente visando atrair a fêmea. A cigarra e o seu canto. Inseto cicadídeo, ouço teu canto, ou melhor, teu lamento. Faço coro contigo. Faço choro, contigo. Sento, respiro. Não sei aonde ir. Paro, respiro. Vivo contigo esse momento. De tristeza e lamento. Teu canto é-me um grande sonho. Por isso, junto minha solidão ao teu canto, à sombra do flamboyant em flor, na 708, W3 Sul.

ESGARÇADA NOITE

a esgarçada noite
derramou-se em dia
filtrado na sua pele-luz
e no seu sabor avassalante

que sei eu
da fendida noite sobre seu corpo?
varrendo eternidade destilo canto sobre
seu ventre
inauguro momentos
descrevo instantes
segredo pensamentos

a esgarçada noite fez-se dia
em rodopios de amores

Friday, November 04, 2005

Guardanapos de Papel

Guardanapos de Papel
Leo Masliah



Na minha cidade tem poetas, poetas
Que chegam sem tambores nem trombetas, trombetas
E sempre aparecem quando menos aguardados, guardados
Entre livros e sapatos, em baús empoeirados
Saem de recônditos lugares, nos ares, nos ares
Onde vivem com seus pares, seus pares
Seus pares e convivem com fantasmas
Multicores de cores, de cores
Que te pintam as olheiras
E te pedem que não chores
Suas ilusões são repartidas, partidas
Partidas entre mortos e feridas, feridas
Feridas mas resistem com palavras
Confundidas, fundidas, fundidas
Ao seu triste passo lento
Pelas ruas e avenidas
Não desejam glórias nem medalhas
Medalhas, medalhas, se contentam
Com migalhas, migalhas, migalhas
De canções e brincadeiras com seus
Versos, dispersos, dispersos
Obcecados pela busca de tesouros submersos
Fazem quatrocentos mil projetos
Projetos, projetos, que jamais são
Alcançados, cansados, cansado nada disso
Importa enquanto eles escrevem, escrevem
Escrevem o que sabem que não sabem
E o que dizem que não devem
Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas
Como se fossem cometas, cometas, cometas
Num estranho céu de estrelas idiotas
E outras e outras
Cujo brilho sem barulho
Veste suas caudas tortas
Na minha cidade tem canetas, canetas, canetas
Esvaindo-se em milhares, milhares, milhares
De palavras retorcendo-se confusas, confusas
confusas, em delgados guardanapos
Feito moscas inconclusas
Andam pelas ruas escrevendo e vendo e vendo
Que eles vêem nos vão dizendo, dizendo
E sendo eles poetas de verdade
Enquanto espiam e piram e piram
Não se cansam de falar
Do que eles juram que não viram
Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas
Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas
Lançadas ao espaço e o mundo inteiro
Inteiro, inteiro, fossem vendo pra
Depois voltar pro Rio de Janeiro